***Alem do Véu***XI

*Lígia*

O tempo foi passando, e não mais lembrava da minha terra com a mesma freqüência de antes, o ser humano tem esse dom de se adaptar as situações que o cercam.

E comigo não foi diferente, já não sentia mais as vestes me incomodarem, já havia me acostumado ao lugar, a abaixar a cabeça toda vez que fosse me dirigir ao um homem; se uma das sacerdotisas de Breed me visse simplesmente não me reconheceria.

Com o tempo passei a me tornar uma espécie de veterana entre as mulheres dali, lhes ensinei vários segredos de minha terra, desde truques para as hortas até os anticoncepcionais, tudo escondido claro. Se alguém nos pegasse, éramos condenadas como hereges, cuja sentença é a morte, vez por outra uma mulher era condenada às chibatadas, os motivos não variavam muito, era sempre porque essas se recusavam a obedecer alguma ordem dadas pelos seus maridos, que na maioria das vezes eram seus maiores inimigos.

As mulheres invejavam o fato como eu e Amir convivíamos, chegando a ficarem espantadas ao saberem que Amir nunca havia levantado sequer a mão para mim.

Fazíamos freqüentes reuniões, por vezes uma das mulheres, ficava um tempo sem aparecer, porque estavam acamadas, vítimas de alguma doença ou mesmo violência sofrida no lar.

Havia uma moça que eu simpatizada mais, chamada Lígia, ela adorava plantas e passávamos horas na minha horta.

---Acho melhor coloca-las naqueles vasos maiores, não?

Disse Lígia com varias mudas de plantas nas mãos.

---Claro você tem razão, essas plantas enraízam muito, e nesses outros vasos elas não iam caber por muito tempo.

---Não mesmo. Disse sorrindo.

Fiquei olhando aquela moça tão amorosa, apesar de viver em meio a tantos sofrimentos, órfã de pai e mãe, sempre lutara sozinha, mas nunca a vi sem um sorriso no rosto. Ela olhou para mim e ao ver que eu a observava ruborizou.

---O que foi? Perguntou um tanto tímida.

---Nada. Respondi.

---Ah, bom, pensei que estava sabendo de alguma coisa.

---Que coisa?

---Hum, nada não, deixa pra lá. Disse isso se escondendo atrás de um vaso de plantas, fingindo pegar alguma coisa.

Rodeei o vaso, e repeti a pergunta.

---Que coisa, Lígia?

---É que... eu acho que vou me casar. Disse corando furiosamente.

---Sério, e com quem?

---Ah, um primo meu de segundo grau, ele não mora aqui.

---Hmm! Sorri, e você gosta dele?

---Não sei, eu não o conheço direito.

---Não sei não Lígia, se não o conhece como vai se casar com ele? Falei um tanto desconfiada.

Ela ficou um tempo de cabeça baixa, e depois falou:

---Só saberei tentando.

---Espero que sejas muito feliz!

---Serei você vai ver.

sutini
Enviado por sutini em 26/01/2009
Reeditado em 27/01/2009
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