***Alem do véu***IV
*Decisões*
Como desculpa de mostrar nossa terra aos hospedes, fazia longos passeios com Amir, onde falávamos de tudo, desde deuses e religiões a coisas banais do dia a dia, às vezes falávamos coisas sem o menor fundamento, às vezes não dizíamos nada, pois as palavras se tornavam desnecessárias, mas, às vezes havia aquele silêncio, aquele silêncio profundo, onde cada qual se perdia em seu próprio pensamento, pensamento estes iguais, como fomos nos apaixonar um pelo outro? Como assumir esse amor aos nossos familiares e amigos?
Estávamos deitados no terraço da torre do relógio, lá em cima, olhávamos para o céu tão azul, tão límpido; O calor do seu corpo insistia em permanecer no meu, seu cheiro, seu gosto.
Estávamos calados, era sempre assim, depois de vivenciarmos o paraíso, sempre vinham os sentimentos de medo, de dúvida, numa mistura de prazer e dor, de alegrias e tristezas.
---Surah, falou comigo hoje. Disse ele quebrando o silêncio.
Como permaneci calada, continuou: ---Me perguntou até quando eu minha família pretendemos ficar, uma vez que nenhum dos refugiados permaneceu por tanto tempo aqui. E ontem chegou um mensageiro de Rear, os regentes que nos perseguiam caíram, querem que Abner assuma o lugar, até que o verdadeiro fasulah nasça.
---É engraçado você esta me dizendo isso, uma vez que eu sei de tudo. Falei irritada.
---Eu sei que você sabe, é só que... eu preciso falar assim mesmo. Eu não quero ir, mas também não posso ficar, tenho meus deveres em minha terra, e mesmo que não os tivesse não seria aceito aqui, a não ser que me ajuntasse aos ribeirinhos.
---Você faria isso? Perguntei mais séria do que gostaria.
---Não Hainan, não posso abandonar meu povo. Sua voz não era mais que um sussurro.
--- ...
--- Hainan, as coisas no meu país, não são fáceis, eu sou um curandeiro, e os curandeiros lá são raros, no vilarejo onde moro sou o único, o povo precisa de mim, não imagina como me sinto por está todo esse tempo aqui, enquanto tem pessoas morrendo lá por falta de cuidados básicos, se não fosse por minha prima Lisa, nem teria vindo, aliás, só vim porque não encontrei ninguém de confiança para protegê-la, Abner só cuida dela porque um dia ela dará a luz ao escolhido, mas na verdade ele não liga a mínima para ela. Falava como se quisesse justificar-se a si mesmo.
---Eu vou.
---O... o que?
---Eu vou com você.
---E o seu sacerdócio?
---Continuarei com ele, aonde quer que eu vá, não preciso estar aqui para isso, não preciso fazer os rituais e seguir todas essas regras, basta eu segui com minha missão, e descobrir onde posso ser útil, e já sei, você é um curandeiro, e eu tenho conhecimento de ervas e outras coisas, posso te ajudar, posso ajudar seu povo.
Ele colocou sua mão em meu rosto delicadamente e disse:
---Hainan, meu anjo, não podes nos ajudar, simplesmente porque não a aceitariam, você seria condenada como herege, lá não aceita bruxas ou curandeiras, apenas homens podem ter essa função, e mesmo assim, é uma função de risco, tem de se tomar todo cuidado para que não confundam nenhuma atitude feita sem pensar com heresia.
---Eu vou com você de qualquer jeito, não posso ficar sem você.
---Nem eu.