Teen Spirit
Então eles colocaram o vinil no toca-discos. A introdução parecia uma música de rock ao estilo surf music dos anos setenta, para rapidamente dar num som pesadíssimo com guitarra ligada em vários pedais: overdrive, compressor, heavy metal e mais algum. A bateria era tipo uma invenção – tipo um achado rítmico, nervosa e envolvente. A letra eles não compreendiam. Só sabiam que o título da canção era Smells Like Teen Spirit, e que a banda se chamava Nirvana. O rapaz que estava sendo apresentado ao disco pelo amigo que o havia comprado poucos dias atrás, nunca tinha ouvido aquela canção. Ele adorou aquilo tudo. Essa faixa de abertura era uma das coisas mais indescritivelmente fantásticas que houvera escutado em toda a sua vida – e isso sem entender quase nenhuma palavra cantada pelo vocalista. Aquilo foi um quase-transe. Um susto. E uma vontade de pular o invadia. Uma vontade de gritar bem alto. Vontade de rolar no chão. Vontade de ouvir o disco sem parar. Vontade de potência. Flertar com impossíveis transcendências. Entrar numa máquina do tempo parado. Quem era aquela gente? Porque Nirvana? Como um disco conseguia ser tão barulhento, caótico, e ao mesmo tempo tão equilibrado? E como era intrigante o bebê dentro d’água na capa azul... Nevermind, o título do álbum. Todas as músicas do álbum eram boas. Todas.
– O que é que a gente faz agora?
– Vamos montar uma banda?
E aquela música mudou suas vidas. Não que suas vidas não mudassem a cada novo bom disco ouvido. Não que isso não houvera sempre ocorrido, corriqueiramente, diversas vezes, antes daquele disco. Não que um passarinho cantando no quintal não pudesse mudar suas vidas. Não que um passeio pela estrada quase deserta conversando sobre as coisas do mundo – como sempre faziam – não pudesse mudar suas vidas. Não que um banho de cachoeira não pudesse mudar suas vidas. Então eles não precisavam de muito dinheiro pra mudar de vida.