espuma

O MEU NOME É RAUL… uso-o como quem faz do Silêncio designação! 'I am the King Off The Universe'!! Não digo a ninguém, mas não me custa escrever: − Estou doido! Endoidei, mas estou bem…

Encontro este primeiro parágrafo parado, olho a pacatez do momento e resolvo continuá-lo do mesmo modo como suponho tenha sido escrito: aqui e agora, desta maneira de fazer história, sem contar mais do que palavras.

Ter vontade de escrever é uma coisa normal para quem se habituou a escrever por gosto, este prazer portátil de registar num gesto uma história que o antecede e o continua.

Um velho com bronquite crónica pára à minha frente engasgado, de garganta irritada, tosse, cospe, cospe, tosse, esmaga com os pés a porcaria que faz e eu deixo de estar onde estou e estou onde não estou.

Imagino ser isto um conto, no final vão casar e ser muito felizes… Ainda tenho primeiro de conhecer os noivos: invariavelmente somo(s) a minha musa e eu no papel de noivo.

Com facilidade e indubitável gosto pelo destino reservado, dou por mim como sendo um poeta apaixonado a escrever a sua história, fazendo da Felicidade o poder de de_ci_dir a vida…

Decido pelo cenário de ondas chegando à praia, uma cadeira vazia à tua espera, um copo cheio sem sentir a demora da chegada.

Entrego-me à sede a imaginar a hora, quando a tarde começa a esbater, dando lugar ao crepúsculo num pôr-do-sol brilhando sobre as águas a bailar até ao horizonte colorido enfeitado de nuvens esparsas.

Curioso é pensarmos ser quem traça o rumo comandando a nau, sabendo-se entregue aos elementos. Quando tudo é normal, o previsível cumpre inalterado. Quase posso afirmar sem erro que procuramos os acidentes, gostando do(s) confundir com desafios: Verdade, sem erro nem engano.

Quando o primeiro verso chega, é como sentir a água duma onda − nos pés nus… Olhamos e vemos as marcas deixadas na areia, ou, estamos dentro de água e a onda apagou os nossos passos.

Leio:

* CONTINUA

1

abro os olhos

para acompanhar

este gesto onde

deixo ficar

o sono na noite

antes de fechar a luz

2

desenho frases

fazendo estâncias

com versos

onde converso

contigo ouvindo-me

silenciosamente

3

estamos dentro

de água e a onda

apagou os passos

para regressar

deixando um rasto

onde a vida (é espuma)…*

Assim

Acabo o (conto…) que comecei ontem, redigido como breve acupunctura de momentos.

R

{Simplifiquei o comentário final e substitui o título "breve acupunctura" (tratamento com agulhas, actuando sobre as vias de circulação de energia no nosso corpo, segundo conhecimentos ancestrais do oriente) por "espuma" do texto…}

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 13/04/2006
Reeditado em 14/05/2006
Código do texto: T138238