Meu Pior Inimigo é Meu Melhor Amigo

Nunca pensei que sairia de Unêbra, caçando alguém que nunca vi, e nem imaginei existir, apenas para ter minha vingança, ou apenas para conhecer e entender aquele que matou todos que sabiam de minha existência, em instantes, tão curtos que ainda os vejo passando minha mente lentamente... Cada bala, cada corpo, cada gota de sangue manchando aquela doce cidade das terras secas...

... E chegando a terra dos ventos posso dizer, meu nome é Pierre Descalles, um espadachim desconhecido, que caminha ao lado daquele que matou tudo que já conheceu, aquele que muitos chamam de “Demônio Death”.

Nunca imaginei que haveria algum lugar assim, um mundo totalmente novo, totalmente renovado, onde apenas o vento clama o lugar, e arvores balançam de um lado ao outro, arvores, tantas, que nunca pensei existir, lembrando apenas a imensa poeira de Unêbra, a pouco vento que nos dificultava de respirar, e a maldição Demônio Death que vagava pelas vilas, exterminando uma a uma, até restar apenas um habitante em toda a região.

Sim, é muito chato lembrar de toda minha vida, o melhor é seguir em frente, esquecendo de Unêbra e as terras secas, e apreciar a terra dos ventos, enquanto ela existe, pois já olho a primeira cidade, nomeada por Tristias, aos meus olhos as casas são parecidas, apenas por algum motivo, que ainda não conheço, bem reforçadas, o suficiente para parecerem esconderijos, todas elas.

As pessoas olham estranho para nós, pergunto ao Death onde vamos, e ele diz apenas uma coisa:

-- Água.

Sabia o que isso significava, e da mesma maneira que Death entrou no bar em Unêbra, ele entrou em Tristias, e foi nesse momento, que não era em nós que as pessoas prestavam atenção, e sim em mim, perguntei-me o por que, e comecei a me debater no meio do bar, enquanto meu amigo tomava um grande copo d’água, ele olhou para mim e sorriu... Alguns caras do bar começaram a se levantar, como aconteceu antes, sabia que era hora do tiroteio começar, era hora de Death sacar suas armas, mas a única coisa que ele fez foi pedir outro copo d’água, sem olhar para as pessoas que começavam a se preparar para arrumar confusão.

Uma cadeira veio em minha direção, me esquivei sem problemas, mas não pude fazer o mesmo quanto ao punho que me acertou no rosto logo em seguida, logo vieram outros punhos, não sabia o que fazer, apenas apanhava, sem dizer uma palavra, e perguntando-me o que fazer...

-- Mate-os, é isso que fazemos, gente do nosso tipo só pode matar a todos, pois eles não são capazes de nos entender.

-- Conhece esse jovem senhor?

-- Não muito bem. Mas o nome dele é Pierre. Foi o que me disse.

-- Não vai ajudá-lo?

-- Ele tem de aprender a se virar sozinho, e se eu for ajudá-lo, a coisa vai ficar feia.

Meu rosto apenas sangrava, e sangrava, enquanto ouvia essas palavras, e desejava ver a morte de todos aqueles loucos, por que estavam me batendo? Não fiz nada, apenas entrei no bar.

-- Ele anda com o símbolo do demônio nas costas, vão matá-lo com toda a certeza.

-- Sabe de uma coisa, não deixei o maldito vivo, para outros matarem, a vida dele é minha.

Foi nessa hora, que vi o estralo de seis balas sendo disparadas, e sete corpos caíram... Logo foram outros disparos, um atrás do outro, cuspi um bocado de sangue, e acredito que até mesmo um ou dois dentes, não sei bem, não estava afim de descobrir naquele momento. Minha espada deixou a bainha das minhas costas, e símbolo que havia na bainha, estava agora radiando na lâmina, atrás de seus relevos dourados.

Meus dedos a seguraram firmes, fiz o sinal da cruz, e parti para cima do primeiro que vi, fazendo minha lâmina atravessar seu peito sem piedade alguma, senti o vento se cortado atrás de mim, e ao virar a espada, apenas fechei os olhos para não ter de ver a cabeça do ser caindo. Uma bala passou ao meu lado, e derrubou outro no bar, minha lâmina tirou a mão de um velho antes que ele pudesse engatilhar uma arma, uma bala estourou os miolos de um garoto, antes que ele pudesse me atirar uma faca. Minha lâmina dividiu a mandíbula de um ser, antes que uma espingarda pudesse ser disparada contra Death.

E logo restava apenas o garçom.

-- Não tenho nada a ver com eles, sou apenas o garçom – Ele disse entre as lágrimas, colocando vários copos de água no balcão.

-- Por que me atacaram?

-- Sua espada carrega o símbolo do demônio, e você estava andando feito um lunático procurando confusão.

Death olhou para mim, e balançou a cabeça, e logo matou o garçom também.

-- Por que fez isso?

Não houve respostas de imediato, apenas quando eu fui guardar a espada na bainha que ele falou:

-- O mundo logo vai acabar. Tenha certeza, você viu com seus próprios olhos, isso esta acontecendo em qualquer lugar.

-- Mas...

-- Sabe o que significa esse símbolo em sua espada?

-- Não... Mas...

-- Um dia isso foi um dos símbolos mais idolatrados de todo o mundo, a Cruz era um símbolo sagrado, e agora, entramos em luta por causa dela, e não ache que alguém é inocente, a loucura está em todo o lugar, não guarde a arma se pretende sair vivo dessa cidade, todos lá fora irão querer te matar junto a mim, e assim será nas próximas cidades.

Pensei em perguntar quem ele realmente era, mas tive de desviar de um tiro que por pouco não tira um de meus dedos fora.

-- Não gosto disso, mas entendo.

Empunhei a espada, e corri para fora, vendo lanças, cadeiras, garfos, balas, tabuas, pedras, sendo lançadas em nossa direção sem a menor piedade, ou sentimento. Até mesmo crianças estavam nesse grupo, era tão estranho, e sabia bem o que tinha de fazer.

Seguir Death, e matar, independente de quem, ou por que, apenas por querer sobreviver, enquanto não estivessem todos mortos, não estaríamos seguros, e fiz isso, parti para cima, de quem estava com armas, ou objetos de pouco alcance, ou apenas de impacto menor, enquanto Death derrubava aqueles que tinham poder de fogo.

Minha espada cortava cabeças em instantes, vibrando por fazer aquilo, enquanto meu coração lembrava que até aquele dia nunca havia matado ninguém.

-- Demônio!!!

Uma cabeça gritou quando saiu do corpo, e vi bem no que eu estava me tornando, ou pensava está me tornando, pois a cabeça era apenas de uma criança, a sétima que matava, fora os outros trinta e quatro habitantes.

Passaram-se alguns instantes, e vi apenas uma legião de corpos no chão, cravei a espada no chão, e me apoiei, deixando lágrimas escorrer, enquanto uma bala sibilou por meu ouvido derrubando um jovem com um arco-flecha pronto para disparar...

Death se aproximou e disse:

-- Nunca relaxe enquanto todos não estiverem no chão, foi o que disse, poderia ter morrido.

-- Acha certo o que fizemos?

Ele olhou em volta.

-- Tanto faz, se não tivéssemos de o fazer, não teríamos conseguidos, afinal de contas, éramos apenas dois.

Deixei um leve sorriso escapar, pois, realmente ele estava certo, éramos apenas dois, dois demônios carregando suas cruzes por um mundo desconhecido por mim, e talvez nem tanto por meu amigo.

-- Vamos para a próxima cidade, apenas irei procurar balas, preciso recarregar, minhas balas estão acabando.

O mesmo abriu seu casaco, mostrando dez caixas de balas presas no mesmo na parte de dentro. Tentei sorrir, mas não consegui, e também não soube se ele brincava ou falava sério, sei apenas que andamos pela cidade por um tempo, então tomamos um copo de água cada um, e seguimos em frente, deixando aquela cidade devastada para trás.

E a única coisa que pensei foi... Meu Pior Inimigo é Meu Melhor Amigo.

Fagner Costa Fonseca
Enviado por Fagner Costa Fonseca em 12/01/2009
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