A prostituta - O mestre e o discípulo
Lá estava o mestre, postado sobre o tapete decorado do quarto, de pernas cruzadas, meditando silenciosa e tranquilamente em meio à manhã de domingo, quando entrou o discípulo. Pediu permissão para entrar, fez um ritual e após a permissão, entrou e se posicionou junto ao mestre, o qual continuou silencioso.
- Mestre. Dirigiu-se a ele em tom suave.
- O que quer siríaco. Respondeu, apesar de não gostar de ser incomodado quando em meditação.
- Algo que me disseram me preocupa.
- O que é que lhe disseram?
- Que ontem à noite, o viram saindo de uma casa menos digna.
- O que você considera menos digno?
- O senhor sabe... Com mulheres...
- Prostitutas... Você quer dizer?
- Sim.
- Sim, estive em uma dessas casas.
- Mestre, sempre ouvi de seus lábios que devemos dominar os impulsos e que os desejos são as causas do nosso sofrimento...
- Siríaco, não é isso que o está perturbando. Diga logo, o que o perturba?
- São as fofocas maldosas sobre a sua pessoa.
- A vida da fofoca e o quanto ela anda, está relacionada ao combustível que lhe dão.
- Combustível?
- Sim... Você dá guarida e vida às fofocas com os seus pensamentos menos dignos e prostitui a vida, assim como o dinheiro prostitui o mundo e o comércio prostituiu o natal.
- Mestre, mas por que ir a um local como aquele e incitar a língua das pessoas?
- Por que se preocupar com a língua maldosa das pessoas? Por que tenho que dar satisfações dos meus atos a pessoas tão imperfeitas quanto eu?
- Mestre, eu o escolhi entre tantos como sendo aquele com quem posso aprender as lições necessárias para a vida e fico preocupado se seus atos não condizem com suas palavras.
- Como ousa me criticar Siríaco?
- Você não deveria dominar seus impulsos sexuais como sempre me ensinou?
- Sexo caro Siríaco é a manifestação da vida. O mundo gira em torno do sexo. Sexo, mais do que um ato físico, é a manifestação de energias espirituais que só alguns poucos podem entender, porém, mal usadas podem trazer grandes desequilíbrios.
O discípulo refletiu um pouco e pedindo permissão, saiu do quarto em silencio, ficando o mestre na mesma posição em que estava quando ele chegou.
À noite, o mestre saiu novamente e o discípulo, ainda perturbado com a história seguiu-o. Ele entrou na casa noturna e o discípulo entrou atrás. Escondido, observava o mestre. De repente o mestre sentou-se em uma mesa, junto a uma jovem bonita e conversou com ela por bastante tempo. Na cabeça de Siríaco passavam várias idéias e todas elas incriminadoras ao mestre. Até que após um bom tempo, o mestre se levantou e segurando no braço da jovem tentava convencê-la de alguma coisa, porém, não conseguiu e saiu da casa em retorno ao lar. Siríaco saiu seguindo-o. Logo o mestre olhou para trás e chamou o discípulo, o qual, envergonhado se aproximou.
- Mestre, sabia que o seguia?
- Sim.
O mestre pediu a Siríaco que se sentasse junto a ele em um banco de jardim e contou-lhe toda a história. A jovem era filha de um grande amigo que vinha freqüentando aquele local todas as noites de sábados e domingos sem que a família soubesse, pois sempre arranjava uma mentira conveniente ajudada por amigas com pensamentos semelhantes e ele estava tentando retirá-la desse caminho já há algumas semanas, mas ainda não conseguira convencê-la.
- Sinto muito mestre por ter me precipitado. Falou siríaco agora envergonhado de si mesmo.
- Tomar decisões a partir do que os outros falam, sempre nos traz conseqüências infelizes.
- No fim de semana seguinte, estavam ambos dentro da casa noturna em missão de salvamento à jovem, a qual depois de muita insistência aceitou ser retirada e ajudada para obter forças para mudar para uma vida mais saudável.
No dia seguinte, estavam ambos meditando, quando siríaco se desconcentrou e começou a rir.
- Concentre-se Siríaco.
- É que fiquei imaginando o senhor fazendo sexo com todas aquelas mulheres naquela casa.
- Saiba que sou seu mestre, mas continuo sendo um homem.
- Quer dizer que o senhor de vez em quando... Falou fazendo gestos.
- É melhor voltarmos à meditação, Siríaco.