Prisioneira do vento
Estava sentada na rede a balançar entre as paredes verdes da sala de estar.
O vento descontente ainda com a chuva forte que apenas me levava a passear, prendeu-me nessa torrente do invocar.
Sentada na rede a balançar, a cabeça cindida a cantarolar, em cantigas de amar, o uivo triunfal do tempo, a levar-me para fora, arrancando todas as esperanças.
Devagar e indo a frente de mim mesma, refletia na vida dessa gente sem teto, sem comida, invisível, como desaparecia, e eu mesma ali sentada a balançar, como poeta do amar, na solidão silenciosa, do vendaval que acumulava a poeira no chão, e a minha frente, uma nuvem de pó, apenas deixava os olhos sedentos de água, lagrimejarem.
Mais água e chuva forte, já me aturdiam. E com os ruídos corrosivos, nos pensamentos aflitos da angústia do Mar Morto, a morte abalada em minhas estruturas, deitava ali do lado.
Agora o tempo não passa e o silêncio era da calma acalentada pelo medo.
O propósito era apenas deixar a noite vir sem Lua, e eu ficaria ali amarrado sem nós e com muitas expectativas.
O elo seria apenas invisível diante de tanto mistério, a vida respirava pelos botões de minha blusa, e tudo era verdade e real, eu apenas piscaria os olhos no tempo e o vento deixaria a passagem livre, e qualquer ser humano iria invadir meu território de amar.
A rede balançava cedendo ao destino e a vida seguia seu rumo, apenas o menino que soltava pipas aparecia feliz e satisfeito com o feito, já que prisioneira do vento, estaria ali sempre a soltar seu cata-vento a sorrir, e eu vendo seu feito lisonjeado, com sua postura do nada a dizer, nada fazer, e nada mover. Respira aliviada, a morte anunciada apenas correu com os raios, a dor do futuro era um Rio mais sereno, e a vida sorrindo como anunciando a vitória, apenas deixou de balançar e a rede assim como ruindo, abriu-se num buraco me jogando ao chão, o som aturdido ao mundo, acordou-me num canto melhor, menos guerra, mas paz.