PESCA DE TAMANDUÁ

PESCA DE TAMANDUÁ

Naquela região os rios e lagoas ficavam muito próximos de capões de mato fechado, e era coisa comum animais de pequeno, médio e as vezes até de grande porte aparecerem para matar a sede e se refrescarem naquelas águas; pescadores e caçadores estavam sempre por ali a espreita, mas no geral os bichos não se importavam com a presença dos humanos, e essa convivência fornecia material para os potoqueiros inventarem suas historias mirabolantes.

Nas horas de descanso, os freqüentadores daquelas margens aproveitavam para trocar idéias e causos, e em ocasiões assim se ouvia de tudo, até uma lorota como essa contada pelo João Ganso: eu estava com um grupo pescando ali pertinho e parecia que os peixes estavam em greve, nada beliscava as iscas dos anzóis, nem um miserável lambari, nada mesmo; depois de muito tempo perdido, resolvemos mudar de pesqueiro.

Joguei o anzol pela ultima vez, mas eu estava danado de raiva e usei força demais e o anzol caiu na água quase do outro lado do rio, esperei um pouco e quando ia desistir senti um puxão forte na linha, quase deixei a vara cair dentro do rio, segurei firma e gritei para os companheiros: corre gente, esse deve ser um jaú maior do que eu, ajudem aqui depressa; a turma veio animada e começou a luta, o peixe rodopiava na água tentando escapar.

Os pescadores puxavam com jeito e lá veio ele vindo devagar, e quando saiu da água foi um espanto geral, o jaú não era jaú e sim um baita tamanduá; o comedor de formigas foi fisgado enquanto bebia água no outro lado do rio, e quando caiu puxado pelos pescadores ele agarrou um dourado de uns cinco quilos dentro da água, e quando saiu do rio estava abraçado ao peixe naquele seu conhecido abraço de quebrar ossos, ficamos apalermados.

Depois daquela pesca estranha, mais que depressa cortamos a linha e o bichou correu para dentro do mato, de lá jogou o dourado em cima da gente e sumiu na maior correria: foi o jeito que ele encontrou de xingar nossa mãe, nós fizemos uma fogueira, assamos o peixe doado pelo amigo tamanduá e matamos a fome que estava nos matando; passado o reboliço, meu amigo Zú comentou: pescar tamanduá parece impossível, mas tamanduá pescar dourado é pior ainda.

Enfim tudo pode acontecer em dia de greve de peixe.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no Eda

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 08/01/2009
Código do texto: T1373249
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