ZÉ COTÓ
ZÉ COTÓ
A Vila de São João era pequena e parada no tempo; luz não havia, o que resume o desconforto e o pouco lazer porque tudo de bom veio com a eletricidade; daí as pessoas se divertiam umas com as outras, com suas manias, suas pirraças e também com sua espertezas e ocasionais maldades e esperto como o cidadão que vou apresentar agora, só ele mesmo.
José do Patrocínio Silva era muito conhecido, mas não por esse sonoro nome de batismo e sim pela alcunha de Zé Cotó, pois o cidadão era isento de um dos braços, mas em troca Deus lhe dera uma enorme alegria de viver e o que mais gostava era contar suas próprias proezas, uma delas ficou famosa e eu conto aqui e agora: ele adorava pescar e certo dia se dirigiu ao Açude Velho para se divertir.
Como o sol estava muito quente resolveu se acomodar entre os galhos de uma arvore, bem na beira do açude; subiu aos trancos e barrancos até alcançar um galho que se estendia sobre a água, formando um confortável assento bem protegido pelas ramas, e lá ficou Zé Cotó empoleirado pescando e sonhando; de repente ele se sentiu observado pela traseira, e quando se virou deu de cara com uma cobra.
Ela era enorme e verde, a bicha se enrolara pelo rabo no galho, e estava com a boca na altura da cabeça do Zé que pensou em um segundo: eu pulo, mas o açude era sujo,
Perigoso e a altura era grande, ai ele mudou rapidamente de idéia, deixou cair a vara de pescar e com sua única mão deu um tapa na cobra que perdeu o equilíbrio e caiu na água, enquanto o Cotó lutava para se equilibrar.
Seguro pelas pernas e gritando por quanto Santo havia ele deu sorte, pois dois lavradores estavam passando por perto, e se apressaram em socorrer o desastrado pescador; quando se viu em terra firme, contou a seus salvadores o ocorrido, primeiro eles duvidaram e depois aceitaram a potoca do Zé, mas recordaram ao mesmo que aquela cobra verde era uma inofensiva cobra dágua , mas ele retrucou: se ocê visse uma baita cobra rente no seu cangote, ia querer saber se era mansa, ou tacava a mão e ia saber depois?
E assim encerrou o assunto e também sua carreira de pescador.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA