FOLIA DE REIS
FOLIA DE REIS
Das tradições mineiras a mais bonita é a Folia de Reis, não só pelo visual colorido e alegre, mas pelo sentido meio religioso e meio profano da festa; as roupas brilhantes e cheias de estampas trazem uma alegria exuberante e uma aura de felicidade, reforçadas pela música na qual a suavidade das rabecas se mistura ao batido dos tambores, ao som da sanfona, das violas e violões.
Na Fazenda do Barreirinho, a alegria começava a reinar na metade do ano, nas noites de inverno, tanto na casa grande, como nas casinhas dos colonos, a prosa em volta dos braseiros era sempre sobre os preparativos da folia que teria de estar maravilhosa quando Janeiro chegasse; os músicos preparavam seus instrumentos e os cantores afinavam suas vozes, até as cozinheiras faziam planos sobre os quitutes.
As costureiras preparavam os bordados sobre o cetim fulgurante de cores vivas que os marungos iam vestir; parecia afobação os preparativos feitos com meses de antecedência, mas o fazendeiro Sô Deca queria tudo na mais perfeita ordem e beleza e para isso era preciso tempo e dinheiro, tempo era o que não faltava e o dinheiro era garantido durante a safra do café que ao ser vendido, garantia a verba da amada folia.
Até as crianças da fazenda participavam dos arranjos com sua alegria e disputavam a honra de ser escolhido o marungo mirim, porque todos os anos um menino com oito anos de idade, era escolhido para se exibir dançando diante da bandeira dos Santos Reis Magos e para isso era preciso ser uma criança saudável e esperta, com bom ouvido para música e bom dançarino, porque dançar o Corta Jaca não era fácil.
O Corta Jaca é a dança oficial dos marungos e é preciso ser ágil e ter boa disposição para agüentar dançar por horas sob o sol ou a chuva, mas o cargo de marungo era muito disputado entre os colonos da Fazenda do Barreirinho e as vezes era preciso fazer um sorteio para a escolha ser feita sem ofender ninguém; era tudo muito trabalhoso e dispendioso, mas na hora de sair cantando e dançando é que se via o resultado.
O animado fazendeiro Sô Deca era o mais alegre e feliz dos marungos, ele saia dançando da fazenda e ao chegar a Vila de São João, ainda agüentava por umas duas horas, só o cansaço fazia com que ele passasse o colorido traje para um de seus filhos continuar a caminhada atrás da bandeira dos Reis Magos; de casa em casa lá ia a Folia de Reis, pedindo licença na chegada, agradecendo a atenção e abençoando na saída.
Para chegar às casas, os marungos diziam: “com licencia Sá moça, posso chegar no palacete de Sá dona”? e a dona da casa aceitava a bandeira, que segurava durante as danças e cantorias, no final era de praxe pedir aos marungos que cortassem uma jaca e eles rodopiam ao som rápido dos tambores, gritando de vez em quando assim: oia só, oia só, no fim além de muitos aplausos eles recebiam uma boa oferta.
Durante uma semana, as folias se movimentavam nas vilas e fazendas, onde eram recebidos com muita comida, bebida e alegria; aonde a noite chegasse eles dormiam nas tuias e casas grandes, sempre muito bem recebidos e festejados, mas a festa maior era no encerramento da semana que era no dia seis de Janeiro, o dia chamado de Reis por ser a data dos Santos Reis Magos, os adoradores do Menino Jesus.
O encontro das folias se dava em uma casa previamente escolhida e em Vila de São João, era sempre na casa do delegado Zurico, porque o dia de Reis era o dia de seu aniversário e uma enorme mesa de comida e outra de doces era preparada para receber as folias e ai se dava o encerramento dos festejos, com desafios de violeiros e cantadores, seguindo-se animado baile, com sorteios de prêmios.
Durante o baile, o fazendeiro sô Deca pedia a palavra e agradecia a colaboração de todos e na presença da comunidade, entregava o dinheiro arrecadado durante a semana, para o senhor vigário da paróquia distribuir para os pobres da região; quando o baile terminava todos voltavam para suas casas e seus afazeres, esperando com as bênçãos dos Reis Magos, pelos festejos do ano seguinte, com muita fé,
Maria Aparecida Felicori{vó Fia}
Texto registrado no EDA