Unêbra

As vezes chego até acreditar que tudo o que aconteceu seja realmente minha culpa, que todas aquelas mortes, realmente tenham sido derramadas sem motivos por minhas armas, D&D, mas gosto de pensar não, assim é mais fácil enfrentar meus demônios quando fecho os olhos, mesmo sendo difícil agüentar de olhos fechados...

Chamam-me de Death, o Demônio Death, isso apenas pelo motivo deu levar a morte por onde passam, como os demônios, meu nome verdadeiro foi esquecido na eternidade, e se gosto desse nome? Não tenho do que reclamar, no final de contas, realmente as pessoas acabam morrendo em meu caminho, como uma doença.

Apenas não gosto de ser um demônio, prefiro anjo caído, daqueles que retornam do inferno por vingança, ou apenas por não acharem um lugar para descansar em paz, acredito que a ultima alternativa seja realmente a minha, nem uma tumba seria capaz de segurar meu corpo, enquanto a cicatriz daquele dia permanecer em meu rosto...

Hoje chego a Unêbra, como todas as cidades por onde tenho passado, o vento sopra o pó em nosso rosto, mostrando a seca do mundo diante de nossos olhos... sigo a pista de minha morte, a pista de onde poderei descansar, ou melhor de quem terei de ver cair para fechar os olhos...

Algumas pessoas começam a se alvoroçar, correndo para suas casas, gritando meu nome, escondendo-se, e tudo que faço é entrar no bar, empurrando as duas portas vai-vem, reparando nos que iram me atacar primeiro, e nos que deixaram alguns morrerem para tentar me pegar de surpresa, jogo uma moeda de ouro no balcão, e barman não demora para me trazer a bebida mais cara daquela região, água...

Os olhos se arregalam, enquanto bebo aqueles 200 mls em um único gole, o primeiro ser se levanta, e antes dele pensar em me atacar, minha mão desliza pelo coldre esquerdo, buscando o “D” dourado estampado no cabo de prata de minha preciosa arma... O recuo do inimigo não acontece, já esperado, meu dedo indicador desliza para o gatilho, puxando-o sem pensar duas vezes, o sangue escorrer pelo peito da minha primeira vitima daquele dia, minha mão esquerda puxa a arma do coldre direito, a que possui o “D” prateado, girando rapidamente para minhas costas derrubando o barman, e sua espingarda com um tiro entre os olhos.

Muitos correm para fora do bar, outros ficam paralisados, e o que eu faço? Atiro como sempre, atiro o mais rápido que meus dedos podem fazer, primeiro os que tentam sacar armas, depois os que avançam com facas, logo os que lançam cadeiras contra mim, fazendo-me desperdiçar tiros, algo não perdoável.

Por um momento conseguem me pegarem por trás, mas logo, solto minhas armas e puxo minha pequena adaga presa no meu peito direito, fazendo um grande corte, no rosto do ser, e logo no pescoço do mesmo.

Os que estavam paralisados correm agora, vendo cerca de treze pessoas no chão, em cerca de dois minutos. Faço o sinal da cruz em minha frente, cuspo no chão, faço novamente o sinal da cruz, pego minhas armas do chão, recarrego-as lentamente, e dou passos calmos para fora do bar, coloco a mão na porta esquerda, e sei bem o que me espera do lado de fora... o mesmo que aconteceu em Branio, Piedes, Jafal e todas as outras terras que passei da região das terras secas... sei bem o que gritaram, e o que tentaram fazer, sei bem o que farei, e isso me faz fazer novamente o sinal da cruz, pedir perdão, e seguir para fora com os olhos batendo em meus olhos, o vento passa, como uma pequena contagem, e ao sentir que ele parou, dou o primeiro disparo, derrubando um jovem segurando um pequeno arco no telhado a minha frente, logo atiro a minha direita, acabando com o velho segurando o grande garfo, a mulher atrás do barril não ver nem quando a bala atingiu seu peito esquerdo, pois continua correndo com a vassoura na mão, o grandão com a marreta só percebe que perdeu um dos olhos, quando atiro um pouco acima do primeiro tiro, fazendo um pequeno furo em seu crânio, o suficiente para vê-lo cair sem expressão. E ai começa o lançamento de madeira, garrafas, pedras, flechas, e algumas balas sem pontaria. “Loucos sem sentidos, iludidos pela criatura que matarei”. Algumas coisas até desvio sem problemas, outras acertam-me em cheio, fazendo-me cambalear enquanto carrego novamente uma das armas, antes de voltar a atirar, sem errar um tiro se quer, exceto quando uma pedra pega meu rosto, que devolvo com uma baforada de três tiros certeiros, dois no coração e um terceiro no meio da testa.

Os corpos, vão caindo lentamente, um a um, até mesmo os cães saboreiam minha rajada de balas, pois haviam se tornado parte da mesma loucura que todo o resto da cidade.

Quando já não vejo nenhum corpo se movendo, volto ao bar, existem ainda duas pessoas vivas, estão de olhos arregalados... não dizem uma palavra enquanto volto a beber o que resta de água naquele bar, uns 700 mls.

A ultima gota passa por minha garganta, e uma voz tenebrosa diz:

-- Por que você mata todos?

-- Não mato todos, apenas aqueles que se mostram contra mim, apenas estava de passagem, por todas as cidades que passei, eles que pediram pela morte, só desejo matar uma pessoa.

-- Por que não me matou ainda?

Olho bem para aqueles pobres olhos, cheios de lágrimas, quase pedindo misericórdia, quase pedindo perdão, mas no fundo ainda, sei o que ele ia pedir, como outros fizeram em cidades atrás...

-- Por que não me matou ainda? – Ele volta a perguntar, passo a mão no meu rosto encoberto pela sujeira de dias, olho para aquele jovem, magro, e possivelmente borrado de medo.

-- Por que não mostrou agressão contra mim, não tentou me ferir como todos os outros, apenas por isso, agora tenho de partir...

Ele olha em volta, ver todos aqueles corpos no chão, aponta para fora, e volta a olhar para mim, com aqueles olhos que odeio tanto, olhos que um dia pude sentir em mim próprio.

-- Lá? Todos morreram lá também?

-- Sim, acredito sim, todos que tentaram me machucar sempre acabam morrendo, apenas um ser sobreviveu a isso, e estou o caçando, por isso tenho de partir logo.

As lágrimas não param do jovem, ele grita por sua mãe, dizendo que eu a matei, eu afirmo, sem menor piedade, e sigo para fora do bar, sem rancor ou pena alguma, sei bem o que tenho de fazer, meu destino está acima do de todas essas pessoas, e eu irei cumprir, tornando-me um demônio ou não, isso não importa, não é necessário um coração quando temos um sentimento tão forte quanto o de vingança...

Meus passos já estão do lado de fora da cidade, quando ouço os passos me seguindo, sei bem quem é, o que quer.

-- Minhas resposta é não!!!

Digo olhando para trás, vendo novamente aqueles olhos cheios de lágrimas.

-- Sou Pierre, não tenho mais ninguém aqui, e tenho de matar o culpado pela morte de minha mãe, sendo um assassino ou não, e você disse que só parará quando matar alguém, então é esse ser que tenho de matar...

Olho para aquele jovem, e vejo um pouco de mim, de um eu que morreu a muito tempo, um eu que tinha coração e sabia o que significava amor, não o eu que sai hoje de Unêbra com as D&D em coldres, pronto para matar até mesmo um Deus.

-- Se não me levar ao seu lado, seguirei você até que a morte me alcance.

Penso em dar-lhe o que pede, a morte, mas acho que não será uma boa idéia, afinal de contas, chega de terras secas, tudo que tinha de fazer por ali já foi feito, não seria nada mal levar alguém que me conhece para outras terras, ou pelo menos acredita me conhecer...

-- Corra então, não temos tempo...

Ele sorrir, e eu passo a mão na cara, e logo ajeito meu chapéu, para evitar os raios de sol. E assim parto para minha próxima aventura ao lado de Pierre.

(Inspirado em o Pistoleiro – Coleção a Torre Negra, de Stephen King.)

Fagner Costa Fonseca
Enviado por Fagner Costa Fonseca em 05/01/2009
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