JOÃO DO MATO

JOÃO DO MATO

Quando menino Joãozinho era uma criança normal, alegre e brincalhona; aos cinco anos de idade surpreendia a família pela sua incomum vivacidade e inteligência, aprendia as coisas novas com enorme rapidez e quando aprendeu a decifrar as noticias do jornal que seu pai lia todos os dias foi um susto e ele foi promovido imediatamente a gênio.

Com o passar do tempo, a fama de super dotado de Joãozinho só aumentava e com os elogios que recebia crescia sua prepotência e soberba; aos vinte anos ele continuava a usufruir de sua fama de mais inteligente que os outros, mas ainda não dissera para que veio, porque os colégios onde fez os preparatórios não o ajudaram a se decidir por algo.

Seus colegas considerados burros por ele, já estavam nas universidades estudando em todas as áreas do conhecimento humano e ele não se decidia por coisa nenhuma ; seus orgulhosos pais diziam: Joãozinho está demorando a se decidir, porque é inteligente demais e ainda não encontrou nada a sua altura, mas o tempo não esperava por ele.

Os anos se sucederam e os antigos colegas do agora crescido João, se formaram e voltaram doutores para sua cidade de Vargem Bonita; a comunidade cansada das empáfias de João já não o endeusavam, amigos ele não tinha e a solidão começou a pesar sobre ele, afinal ele era só inteligente, mas não era doutor de coisa alguma.

Seu comportamento mudou de repente, do rapaz bem vestido e orgulhoso nada sobrou, ele ficou descuidado, com as roupas mal cuidadas, cheirando mal porque não tomava banho e foi se tornando uma pessoa estranha e de hábitos discutíveis, mas o pior de tudo foi que ele perdeu o respeito pelas pessoas, principalmente pelas moças.

Durante sua mocidade jamais namorou, porque julgava as jovens da cidade pouco inteligentes e nunca estavam a altura onde ele se colocava, parecia que ele as culpava pelo seus erros e passou a persegui-las com brincadeiras grosseira e obscenas, a situação ficou tão grave que a família o mandou para um hospital em uma cidade distante.

Por lá ele permaneceu por dois anos se curando de suas manias, e quando voltou foi viver na fazenda da família no meio de um mato cerrado, mas foi pior porque ele passou a correr atrás das mulheres que apanhavam lenha naquele mato e por isso ganhou o apelido de João do Mato; mais uma vez foi internado, mas dessa vez não foi para fora.

Foi internado no pequeno hospital de Vargem Bonita, mas a administração era feita por um grupo de freiras, ai deu-se o desastre: na primeira noite de internação, ele se levantou, enrolou-se no cobertor e ficou andando pelos corredores até que duas freiras foram a seu encontro para leva-lo novamente para o quarto e para a cama.

Elas tiveram a maior surpresa quando se aproximaram e disseram: vamos meu filho, venha repousar, ele abriu o cobertor e estava completamente nu e disse: vêm cá andorinhas, quero tirar a inocência de vocês, venham cá, elas correram gritando por socorro e por quanto santo havia; os seguranças do hospital o agarraram.

A família ficou sem opção depois de mais esse escândalo e foram forçados a tomar medidas drásticas; construíram uma suíte reforçada nas terras da fazenda e o colocaram lá com guardas de confiança na vigilância dia e noite, era o fim dos escândalos e do gênio que se tornou genioso e perigoso demais para viver livre, leve e solto no mundo.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 02/01/2009
Código do texto: T1363031
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