O Anjo (Capítulo I - A Menina que viu Deus)

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CAPÍTULO I – A Menina que viu Deus

Celine é uma garota comum, muito dedicada nos estudos e dotada de uma doçura cativante. Tem um namorado que sabe entendê-la e dar carinho, que também é bondoso e educado. Ela conquistou amigas verdadeiras que a auxiliam em todos os momentos, fazendo até mesmo às vezes, coisas que eu peço a elas que façam, elas não percebem que estou pedindo, mas fazem pelo amor que flui de seus corações. E apesar de sentir a falta da mãe, ela tem alegria. E sempre sai com suas amigas para dançar e se divertir.

Seu pai sempre trabalha duro, para que ela possa ter não tudo, e nem exageradamente, mas sim o que de fato precisa. Eu me sinto feliz quando a observo escrevendo uma carta com muito amor e carinho para dar ao Tiago em um daqueles envelopes coloridos e perfumados que ela mesma faz. Ela às vezes tem medo, ou desconfia dos sentimentos que eles têm um pelo outro, mas eu não, porque eu reconheço se o amor é verdadeiro quando o vejo emanar das almas daqueles que se amam. Pois o amor verdadeiro não vem do homem, mas de Deus. E eles se amam, verdadeiramente.

Mesmo não sentindo e vivendo como ela vive, eu sei tudo que se passa no seu coração e sempre tenho o que dizer a ela, o que é o certo a fazer, mesmo que às vezes ela não escute. Eu não sei do futuro dela, porque como dizem os homens ‘O Futuro só a Deus pertence’, mas eu sei que ela será grande, pois há uma marca nela que ela mesma não pode ver.

E enquanto eu te dizia tudo isso, estive aqui, na escola com ela. Ela está fazendo uma prova de matemática, e eu estou observando. Eu não posso ‘passar cola’ para ela, e nem permito que ela o faça, mas posso evitar que fique tensa. Bom, esta é a ultima aula, então vamos aguardar um momento até que ela acabe a prova...

Pronto. Ela está indo embora, siga-nos.

- Celine, é melhor você seguir direto para casa. – Aconselhei-a.

Ando pelas ruas junto dela, vendo o pôr-do-sol alaranjado no horizonte e as folhas que o vento carrega e coloca sobre seus cabelos negros. Eu a acompanho até sua casa em ordem de combate, ela vestindo a camiseta da escola e uma calça jeans num tom claro, carregando seus cadernos e livros junto ao peito.

Quando chegamos em sua casa, vejo que ela parece triste... Talvez pelas fofocas na escola sobre seu namorado. São mentiras, mas ela não sabe disso. Tento ajuda-la:

- Celine, não acredite nisso, são mentiras. Pense nisso: são mentiras. Você não deve dar ouvidos a essas coisas.

Mas ela não quis me ouvir. Ela pega o telefone e liga para suas amigas, elas combinam de se encontrar numa lanchonete. Celine toma um banho e se veste para sair, ela está usando uma bata azul marinho, calça jeans num tom escuro e sapatos de salto alto. Bonita demais para uma lanchonete, creio eu.

Após uma pequena volta de ônibus, chegamos à lanchonete, Celine se senta numa mesa junto com suas amigas Paula, Luana, Jennifer e Jéssica, e eu permaneço de pé, atrás dela. Elas falam de diversos assuntos, mas quando tocam no assunto de namoro Celine fica mal humorada. Jennifer tenta convencê-la de que tudo o que ela ouviu o dia todo eram mentiras, mas ela está com o coração fechado e não quer ouvir.

Nesse momento chegam alguns meninos para falar com elas, a única que namora é Celine. Eles pegam uma mesa próxima e a encostam na mesa das meninas. Conversam um bom tempo, elogios e cantadas, daqui e de lá, e Jennifer decide ficar com um dos garotos, ao perceber que a amiga tinha se retirado, Celine começa a dar atenção ao garoto que está interessado nela, o que não é uma idéia nada boa... Pouco a pouco os outros se retiram, alguns para passar um tempo juntos, outros para ir embora e conseguir um pouco de paz. E é nesse momento que ela beija esse garoto, e os dois se levantam e vão para a rua. Eu permaneço com ela, o tempo todo.

Esse garoto não é tão inocente quanto ela, ele aproveitou de seu corpo como nunca nem mesmo seu namorado tinha feito, pois respeita muito ela, e depois de tudo o que fez com ela quando estavam encostados naquele muro velho nesta rua escura, simplesmente foi embora sem muitas palavras. Celine está sentada na sarjeta, chorando com muito arrependimento. Fomos para casa, ela estava aparentemente sozinha na rua, mas eu estava com ela, e mais um a consolando, um daqueles que existe só para essa função.

Ela chora muito na cama, não acredita que foi capaz de trair Tiago por causa de uma fofoca. Ela dorme com a foto dele em sua mão, e eu fico com ela ali até o amanhecer.

Ela teve uma noite agitada, resmungou e se mexeu muito. Ela acorda, se lembra de algo e sorri, eu não entendo o porque. Ela procura a foto de Tiago que estava em sua mão, eu estou do lado da janela e a foto está próxima a mim. Quando ela pega a foto no chão e olha para minha direção, ela grita assustada e diz tremendo:

- Q-quem é você?

Olho de volta para a janela, mas não vejo ninguém ali. Ela continua:

- É com você mesmo que estou falando! – Ela cai da cama e vai se rastejando de costas em direção a parede. – Como entrou aqui?!

Não entendo, será que ela está me vendo? Eu me movo na direção dela para ter certeza, ela me interrompe com um grito:

- Não chegue perto de mim!

Intrigante, ela não deveria me ver. Tento acalmá-la como sempre fiz:

- Celine, fique calma... – Ela me interrompe:

- Como você sabe o meu nome?!

Ainda bem que apenas ela está em casa, caso contrário os gritos dela já teriam feito com que seu pai viesse aqui. Tento explicar de alguma maneira:

- Fique calma está bem? Eu... Eu sempre... Você se lembra de mim?

- Eu não te conheço seu maníaco!

- Sim, me conhece. Não se lembra que quando nasceu eu prometi que sempre estaria contigo? Ou não se lembra que quando você aprendeu a andar eu estava do seu lado? E que quando você chorava agoniadamente no quarto com sua mãe eu te consolava enquanto ela partia?

Ela fica pasma. Não consegue falar. Ela toma um pouco de ar e diz:

- C-como você sabe que eu estava chorando? Eu fingi que não estava chorando porque tive vergonha.

- Eu sei porque eu estava lá, ao seu lado.

- Mentira! Eu estava sozinha!

- Não é mentira, você parecia estar sozinha, mas não estava. Eu e aqueles que são como eu estavam lá.

Ela faz uma expressão de duvida.

- O que você quer dizer com isso?

- Celine, eu estive contigo sempre, eu estava com você ontem quando traiu seu namorado, eu estava com você enquanto você chorava arrependida na rua e aqui no seu quarto.

Ela treme com lágrimas escorrendo de seus olhos, e me pergunta:

- Quem é você? Por que está me dizendo isso?

- Sou seu anjo da guarda Celine.

Ela fica furiosa.

- Maníaco! – Ela atira um objeto em mim, ele passa por mim, pois eu não sou matéria – Meu Deus! – Disse ela surpresa.

Eu me aproximo dela e olho-a nos olhos. Ela diz:

- Seus olhos... Sim, agora me lembro de você. Você estava comigo quando nasci.

Ela tenta passar a mão no meu rosto, mas não consegue, pois a mão dela atinge somente o ar. Então ela se acalma, se senta na cama e começa a falar para mim de um sonho que ela teve, ela me disse que no seu sonho Deus veio até ela, a abraçou e beijou seu rosto, disse que perdoava ela e que ela ganharia um presente Dele, e quando ela acordou, me viu de pé perto da foto de Tiago. Não me foi revelado isso, e ela não entende o porque disso, mas tudo que Ele faz é por algum motivo, e iremos entender, juntos.

E a continuação:

O Anjo (Capítulo II - A Menina que carrega a Vida)

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