O Anjo (Prólogo - Nascido da Luz)

Prólogo – Nascido da Luz

Eu fui criado no dia 25 de dezembro de 1993, era Sábado. Chovia muito, eu estava num hospital chamado Santa Casa de Misericórdia, um belo nome. As pessoas estavam felizes, comemorando o natal. Mas haviam aqueles que se encontravam tristes, pois sentiam a falta daqueles que amavam e já partiram. As luzes brilhavam na cidade, mas aquela noite a luz mais puríssima que brilhava era a pequena Celine.

Era pequena e delicada como uma gota d’água, linda e esplendorosa como o Sol. Eu pude ver seu puro sangue circulando por todo seu corpo, seu pequeno e frágil coração pulsar, seus pequenos olhos verdes refletirem amor e carinho a todos aqueles que os encontraram. Até mesmo a mim.

Eu não era como ela, eu me parecia mais com as outras pessoas daquela sala, os adultos. Eu, porém, diferente deles possuía brilho e fogo em mim. Embora fossemos tão diferentes ela podia me ver, todos os outros que estavam naquela sala não podiam por causa de seus corações duros e cheios de culpa, somente ela tinha a inocência necessária para me ver e saber quem eu era. Pelo seu olhar, a alma da pequena Celine me dizia: ‘Você é luminoso como um anjo, me sinto segura com seu olhar. Nunca me deixe’. E eu prometi que nunca a deixaria.

Eu a acompanhei, sempre estava ali. Quando ela chorava eu a consolava, quando aprendeu a falar eu sorri, quando deu o primeiro passo eu segurava sua mão. Travei batalhas por ela, mas isso vou contar mais a frente. E o tempo passou, ela começou a ir à escola, começou a fazer amigas e conhecer coisas novas. E eu vi aqueles que são como eu, protegendo as outras crianças.

Quando a pequena Celine fez 8 anos parou de me ver, e depois disso poucas vezes me sentia. O tempo continuou passando, ela começara a sentir o gosto amargo da vida real, e seus sofrimentos endureciam seu puro e inocente coração. Eu não podia sentir tudo o que ela sentia, eu não sentia o gosto da comida, a dor de uma bofetada ou o calor de um abraço, mas eu compreendia o que tudo aquilo era para ela.

O mundo de dela virou de cabeça para baixo quando ela perdeu sua mãe. A mãe de Celine, Elisângela, tinha uma doença pulmonar e faleceu aos 36 anos de idade. Foi uma ótima mãe e uma esposa exemplar, sempre cuidou do bem-estar de sua família, e embora eles fossem pobres, ela nunca permitiu que faltasse alimento e conforto a sua filha. Ela também a educou na igreja e ensinou que eu existo, e sempre estou protegendo e acompanhando Celine por ordem de Deus. Mas a vida neste mundo é breve como a espuma do mar, que vem com a onda, se forma sobre a areia e logo em seguida desaparece. No meu lugar de origem entretanto, é eterna.

Ela tinha 13 anos quando sua mãe foi levada ao local de repouso por outros como eu, mas esses têm outras missões. Eu gostaria que ela pudesse ver a felicidade de sua mãe como eu vi, mas ela não pode. E ela chorou como nunca havia chorado antes, e estive junto dela o tempo todo.

Ela continuou crescendo, com dificuldades e tristezas, e essas coisas eu vi de perto, senti profunda compaixão por ela, e eu sussurrava as palavras de conselho, conforto e motivação que era ordenado a dizer em seus delicados ouvidos, mas nem sempre ela quis ouvir.

E agora, com 15 anos, ela começa a vivenciar coisas diferentes, dolorosas e prazerosas, coisas eternas e passageiras, realidades que vão marcá-la para sempre.

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