Viagem Inevitável

Certo dia deparei-me com estranha situação: oras, ha algum tempo não via minha esposa pois tinha viajado por conta dos negócios, e senti nela algo que nunca havia sentido antes, e mais, aquele sorriso lindo que me cativara havia se escondido. Esperei as crianças dormirem e indaguei a causa, e ela me respondeu:

-Meu amor, tenho de lhe contar uma coisa que há muito lhe escondo. Lembra daqueles exames que o médico me mandou fazer e eu lhe disse que não era nada demais? Pois, é... eu menti... a verdade é que uma moléstia incurável e progressiva abate-me e não tenho muito tempo de vida.

Naquele instante senti como se o peso de todo o mundo caísse sobre mim e, por um segundo, senti-me desfalecer. Não podia ser verdade... a mulher com a qual vivo há doze anos está partindo aos poucos e logo completará sua viagem sem volta? E meus filhos... como contarei isto à eles?

No mesmo dia pedi para ver os exames, levei à diversos médicos diferentes que deram a confirmação que eu temia. O meu ultimo vislumbre de esperança havia, agora, desaparecido.

Nos dias que se seguiram, tentei manter a rotina familiar inabalável. Resolvi, em comum acordo com minha esposa, poupar nossos filhos de tal dor. Afinal, não havia porque fazê-los sofrer em demasia.

Eu, todas as noites, orava à Deus e pedia um milagre, pedia que não levasse minha amada. Porém nos ultimos tempo ela não estava nada bem e os sintomas eram cada vez mais visíveis. Agora ela mal levantava-se da cama, tinha o olhar cinzento, e seu espírito ia vagarosamente desprendendo-se do corpo, tal qual a borboleta desprende-se do incômodo casulo.

Foi em uma bela manhã do vigésimo dia de Janeiro que aconteceu o inevitável. Minha amada deixou a vestimenta carnal para encontra-se com sua verdadeira essência. Meus filhos ficaram inconsoláveis e eu tive de me mostrar forte, apesar do coração dilacerado... neste instante dei graças a Deus por tê-los para me apoiar e abraçar neste momento.

Algumas noites após do acontecido tive um sonho com minha esposa, um sonho tão real (para mim foi real), que me deu a esperança de reencontrá-la novamente no futuro. No sonho ela estava envolta em uma felicidade radiante e chamou-me de amor como sempre fazia.Depois disso, senti sua presença por todos os dias e até hoje a sinto.Hoje tenho a certeza que toda separação carnal é somente momentânea, e que espíritos que se amam jamais se separam.

FernandoNogueira
Enviado por FernandoNogueira em 21/12/2008
Código do texto: T1347309
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