Gato escaldado

Encontrei-me dias destes com o Malóquinha, ali perto do Largo de Vila Prudente, comendo uma cochinha no bar do Vermelho. Fazia um bom tempo que não o via. Prá falar a verdade foi ele quem me reconheceu. Pensei que ainda estivesse preso, mas depois ele me contou que já faz uns cinco anos que deixou o xilindró.

O Malóquinha viveu mais preso do que solto. Não que ele fosse um bandidão desses que a gente vê hoje nos telejornais, que mais se parecem com monstros que com seres humanos.

O negócio do Malóquinha foi sempre no 171. Um baita de um embrulhão que trocava até dentadura de boca de fogão. O negócio dele era aplicar o famoso coice, que para quem não sabe é o golpe do troco. Ele me explicou umas duzentas vezes como é que se faz e eu não consegui entender muito bem. Só sei que ele chegava em um estabelecimento, comia alguma coisa e pagava com uma nota de cinquenta. Na hora do cara dar o troco é que ele aplicava o golpe, e é ai que não entendi direito como é que se faz. Só sei que no final ele acabava ficando com os cinquenta dele e mais o troco.

Outra coisa que ele era danado pra fazer também, era vender televisão para os otários pela metade do preço. Ele pegava o dinheiro adiantado e o trouxa que dava o dinheiro nunca via a tv. Tem gente esperando até hoje.

Sem contar o golpe do pacote de presente. Ele chegava em um restaurante com um pacote todo cheio de teretetê, que quem via pensava se tratar de algo valioso. O pilantra comia e bebia até se empanturrar. Depois pedia para o dono do estabelecimento guardar o pacote, que ele iria até o carro pegar sua carteira. Antes ele fazia um drama danado. Dizia que era algo valioso, pedia para tomar cuidado pois era material frágil, saia e não voltava nunca mais. Quando percebiam o golpe era tarde, o malóquinha já estava bem longe.

Vez ou outra ele caia do burro. Um dos seus golpes era descoberto e ele acabava em cana.

Ficamos ali proseando por um bom tempo, recordando várias aventuras de nossa infância. Depois disse que estava nervoso porque viera fazer um empréstimo em uma financiadora ali na Vila Prudente e eles não aprovaram o seu cadastro.

Mostrou-me um monte de documentos e não entendia o porquê de não terem aprovado o seu pedido de empréstimo.

Disse-me, ele, que o problema foi na hora que mostrou o comprovante de endereço. A moça franziu o nariz, levantou-se e foi conversar com o gerente, depois de meia hora voltou e disse que o seu cadastro não fora aprovado.

Esquisito! Pensei comigo. Pedi então que deixasse-me ver o documento que constava o seu endereço.

Brincadeira! Contando não dá nem pára acreditar! Parece até piada! Era uma carta de cobrança do SPC!

----Pô Maloquinha! Você me leva uma carta de cobrança do SPC, como comprovante de endereço!!!

----Ué, mas é a única coisa que eu tenho em meu nome!--Respondeu ele.

----Tá na cara que eles não iam te emprestar! Você se entregou sózinho!

----Caramba que mancada! Dei de bandeja pro inimigo, agora é que eu me liguei! -Choramingou o Maloquinha.

----Quanto você tinha pedido? - Perguntei.

----Quinhentinho! Você não tem aí pra me emprestar? A semana que vém eu te pago!

----Eu não!!! --Respondi rápidinho.

Emprestar dinheiro prá ele, nem morto. O bicho é um baita de um caloteiro. Eu é que não confio nele não!

Conversamos mais um pouco e me despedi rapidinho, pois se é que eu conheço o Malóquinha, mais cinco mínutos de conversa e ele me levava no tapa. Eu heim! Gato escaldado tem medo de água quente.

FIM

"Peço desculpas aos meus leitores por algum erro de ortografia, pois não sou escritor, sou apenas um humilde narrador de histórias. Caso encontrarem algum erro peço a gentileza de me avisarem para que eu possa fazer as correções necessárias. Muito obrigado."