O Segredo
Coitado do Afonso. Há dias que estava mal, pedia que avisassem a familia,pois tinha um segredo para lhes contar, mas esta morava muito longe, em outro país. Nas circustâncias em que estavam, a notícia demoraria meses para chegar. Mas como seus amigos o apreciavam muito, fizeram esse favor. Escreveram uma carta contando que estava muito mal e, em letras bem pequenas, o próprio Afonso redigiu o segredo. Estavam em guerra, e tudo o
que ele teria passado lá nem o tempo consiguirá retirar. Esperaram dois dias
até o que o navio, que levaria as correspondências, chegasse. Entregaram a
carta a um conhecido garantindo que entregaria aos familiares de Afonso.
"Não se preocupe, daqui algumas semanas já estarão com a resposta". Seguidos dois dias de viagem, o colega, responsável por entregar a carta, adquiriu leptospirose, pois dormia na pior classe do navio. Percebeu que não aguentaria por muito tempo e passou a carta para um de seus amigos, Francisco, com o intuito de realizar o objetivo. Francisco estava viajando a procura de um lugar para ter uma nova vida, qualquer oportunidade que aparecia ele abraçava com convicção, crendo que poderia lhe render bons frutos. Mais dois dias se passam e o corpo do colega de Afonso é jogado ao mar. Francisco rezou prometendo-lhe que entregaria a carta. Sabendo que dentro dela havia um segredo, ele fez o possivel para matar a sua curiosidade, até que não conseguiu e abriu a carta. Mas ele Francisco abriu perto de outros amigos, que debocharam de sua cara, dizendo que acabava de receber a carta do amor. Isso era coisa de maricas. Os amigos quiseram arrancar-lhe a carta, mas ele relutou para que isso não acontecesse. Porém não conseguiu e um dos rapazes arrancou-lhe de sua mão e em voz alta, recitou poeticamente o que estava escrito. Quando perceberam que a carta se tratava de uma confissão, e muito séria, desculpou-se e devolveu-a. Francisco guardou-a muito bem e fez com que seus colegas jurassem nunca contar o que leram e ouviram. Todos fizeram a promessa, pois com isso não se brinca. Um mês já havia passado e o tempo se aproximava para o desembarque. Certa noite, Francisco foi ver se a carta ainda estava no local em que guardara e deparou-se com o "cofre" vazio. Onde foi parar? Quem havia pegado? Correu até o convés do amigo que havia lido para os outros e encontrou-o vazio. Foi batendo de porta em porta para encontrá-lo, mas nada de achá-lo. Quando voltou ao seu quarto viu o corpo daquele que leu estendido no chão, morto, com embrulho e um bilhete preso à boca. Francisco o leu, sentou na cama, abriu o embrulho. Dentro continha uma arma, pegou-a e atirou em sua cabeça. Dois meses depois os amigos de Afonso recebe aresposta da carta, mas ele já havia morrido. Na resposta os familiares apenas escreveram: AGORA PODE MORRER EM PAZ.