The End
Aquela poderia ser mais uma tarde qualquer, mas ele tinha um sorriso tão gostoso na face. Confesso não ser nada comum vê-lo se contorcer e gargalhar como uma criança, era sempre tão sério. Tirou o dia para me contar piadas, fazer cócegas. Quando começamos a namorar eu sabia que ter um quintal gramado serviria de algo. E lá estava ele, me fazendo correr por entre as roseiras até cair no chão, sentindo seu corpo ser jogado sobre o meu, ele não era nada leve, mas isso não importa. Seus beijos eram doces, seus carinhos inocentes, devem ter se passado anos desde ultima vez que nos divertimos juntos, mas tudo nessa vida tem uma explicação.
Ele se levantou, entre risos pouco mais baixos, ajeitou a roupa que vestia, coberta com pequenas folhas verdes, que ele teimava em tirar, uma a uma. Sorriu mais uma vez, ele estava contra o vento, isso fez com que seu cabelo cobrisse a face, mal dando pra ver seus dentes fininhos por entre os lábios. Estendeu-me a mão e eu a segurei, me levantando, sem me importar com minhas vestes.
A tarde já estava no fim. O sol se punha no horizonte, era uma visão perfeita. Havia uma arvore em nosso quintal, sempre sentávamos ali no inicio da noite, sem dizer uma palavra, observávamos a lua surgir ao céu, e aquele dia não foi diferente.
Sentei-me e repousei as costas no tronco da árvore e sem demoras, ele se ajeitou por entre minhas pernas e encostou-se a mim, deitando a cabeça em meu ombro. Não resisti, o abracei, com toda força que misteriosamente existia em meu pequeno corpo, pude ouvir risos de reclamação, mas ele não me impediu. Uma lágrima rolou de meus olhos, tendo fim na bochecha dele. Me Olhou. E me olhou por um bom tempo. Selou nossos lábios e sussurrou contra eles:
- Estou pronto - Agora seus olhos estavam fechados. Ele me passava tanta calma.
Soltei um de meus braços de seu corpo, encaminhando a mão ao fim do tronco da árvore, escondida por entre as raízes e grama úmida, tirando dali uma pequena adaga, dada por ele mesmo meses anteriores. Aquele era seu desejo, ele me pediu com tanto carinho, tanta vontade. Já havia negado muitas coisas, mas essa ele não deixou que eu dissesse um ''Não''.
Meu peito doía. Meu coração gritava pra se libertar, mas ele não deixava, se pressionava a mim com tanta força e sorria, sempre. Até mesmo quando finalmente cravei a adaga em seu peito, pude sentir sua ponta bater em meu abdômen. Não consegui conter as lágrimas que agora encharcavam meu rosto. A dor fazia com que ele se contorcesse a minha frente. Mas ele não chorava, ele não reclamava, ele não dizia uma palavra, apenas me abraçava. Era incontável o número de 'eu te amo' por mim ali dito, ele sorria a cada um deles. A grama verde tornara-se vermelha naquele momento. Sentia meu corpo lavado pelo seu sangue, minhas mãos, minhas vestes, minha alma. Mas era o desejo dele, meu amor.
Pude ver uma pequena gota de sangue escorrer pelo canto de sua boca. Limpei-a com meu indicador e o beijei, por uma ultima vez. Um beijo breve em questão de tempo, porém eterno contando nossos sentimentos. Pude ler seus lábios quando um sussurro foi deixado, antes que seu ultimo sopro de vida fosse dado. Suas mãos largaram meu corpo e seu coração agora não mais batia. Agora ele estava realmente feliz. Acariciei sua face, que ainda guardava um belo sorriso, não pude fazer mais nada além de retribui-lo. Minha criança agora dormiria em paz e eu poderia seguir levando comigo suas ultimas palavras: Eu te amo.