O Sindicato do Sexo
As ruelas estavam vazias. Dois jovens saltam do carro e se achegam ao costumaz hoteleiro. "Greve, sim. Greve." Responde aos jovens. “As prostitutas estão em greve”. Custosos em acreditar, continuam rondando o centro da cidade, mas, é evidente, não há prostituta alguma. Eles tentam, por último, os telefones celulares das mais caras. Todos estão desligados.
No dia seguinte, não é visto um classificado que seja sobre sexo profissional. A manchete de capa: “Profissionais do sexo deflagram greve”. Abaixo, toda uma matéria jornalística explicando que prostitutas, travestis e michês entraram em greve por melhores condições de trabalho e por regularização da profissão. A presidente do movimento afirmava ter apoio de entidades feministas, das de direitos humanos, além do apoio de alguns juristas e intelectuais. Até suas reivindicações serem atendidas a greve permaneceria.
O público não acreditava que tal movimento teria eficácia. Mas conforme os dias se transformavam em semanas, a sociedade começava a mostrar sinais de colapso. Aos donos de clínicas, aos empresários bem-sucedidos, aos grandes fazendeiros que se utilizavam do serviço das profissionais, aumentaram-se o índice de violência doméstica e divórcio. Aos jovens solitários que também se utilizavam do serviço, aumentou-se o número de suicídios. Aos homossexuais sigilosos que também se utilizavam dos profissionais, aumentou-se o número de revelações e assumidas. Os jovens homossexuais saíam de suas casas, os casados se separavam. E aos usuários proibitivos, aumentou-se o número de escândalos. Aos que sofriam de tara, aumentou-se o número de estupros, aos que eram clérigos, e aos que eram patrões, aumentaram-se o número de abusos e assédios, seguidos de processos, excomunhões e demissões. Aos usuários mais assíduos, as relações sociais costumeiras se mantinham, mas a muito custo: aumentaram-se a esses o estresse, as brigas familiares, o alcoolismo, os acidentes de trânsito. E aos profissionais que tentavam furar a greve, os profissionais aderidos prontamente os agrediam quase até a morte. A alta de todos esses índices sobrecarregava a polícia, o jurídico, os órgãos públicos. Toda essa tensão começou a gerar debates nas escolas, nas igrejas, no rádio e na televisão. O número de pessoas a favor da regularização dos profissionais aumentava avassaladoramente de toda a parte. A popularidade dos governantes e do legislativo caía fatalmente. As câmaras não tiveram alternativa senão mobilizar uma constituinte que regularizasse todas as condições trabalhistas dos profissionais do sexo. A lei foi rapidamente aprovada quase que unanimemente. A greve, que durara quase seis meses, chegara ao fim. E com o reinício do serviço, a sociedade voltou ao normal.