Numa noite de verão
Viajavam de carro há horas e só viam mata fechada pelo caminho. Parecia até que nunca mais veriam algo além de daquilo. Depois de muito tempo, já cansados, avistaram uma casa ao lado da estrada. Precisavam descansar e ali certamente seria o lugar ideal. Ambos desceram do carro, ela e ele. Gritaram por alguém, mas ninguém atendia o chamado. Então ele atirou pedras na porta de entrada e na janela, entretanto ninguém apareceu. Chegaram mais perto e perceberam que a porta estava destrancada. Entraram, porém, dentro só havia alguns objetos velhos e sem valor, nem mesmo uma cama para se deitar. De repente, ele saiu pela porta, olhou para o céu e aquela visão chamou-lhe a atenção; estava repleto de estrelas como ele poucas vezes vira. Milhões de estrelas, uma mais linda e brilhante do que as outras. Na cidade, onde vivia tudo era tão diferente e sem vida.
- Dormirei aqui fora. Disse ele.
- Aqui fora?
- Sim. Olhando essas estrelas maravilhosas.
- Se você dormirá aqui, eu também.
Havia algumas madeiras por perto, pegaram-nas e acenderam uma pequena fogueira para aquecer. Arrumaram o chão com alguns panos que tinham no carro e deitaram próximos de um limoeiro. Por insistência dele, deitaram-se na posição que mais facilitasse olhar para as estrelas. Olhando para o céu, conversaram por algum tempo; falando da vida, dos amigos, dos familiares. No meio da conversa, ela sentou-se, retirou da bolsa um baseado, acendeu-o e ambos conversavam e trocavam a vez de tragar a fumaça do “cigarro”.
- Aproveita que esse é do bom... Disse ela.
- Como você sabe?
- O camarada que me vendeu garantiu.
- Realmente parece ser do forte mesmo. Já estou me sentindo outro.
Aproveitando a noite aconchegante e sentindo o ambiente de liberdade, tiraram a roupa, curtiram-se bastante, saciaram os desejos e acenderam outro baseado.
Naquela conversa e naquele envolvimento, dormiram. Ela apagou deitando-se de lado e ele dormiu olhando fixamente para as estrelas. Ele roncava noite afora.
A madrugada seguia com o céu limpo e belo. Repentinamente, ele “acordou” com limões sendo jogados em sua cabeça. Olhou e viu o limoeiro vivo, com pernas e braços atirando limões sobre ele. Revoltado, iria reclamar com aquela árvore que perturbara o seu sono, porém olhou para o céu e percebeu que as estrelas estavam muito mais próximas dele do que ele jamais vira ou imaginara. Pareciam enormes, brilhantes e lindas. Gradativamente, elas foram aumentando em tamanho e beleza. Enquanto as olhava, elas começaram a se tornar em fadas, lindas, todas vestidas com roupas douradas e decoradas. Elas se aproximaram dele, tocaram-lhe o rosto, acariciaram-no e ele envolvido com o brilho e a beleza delas, sentiu-se levado para cima. Sorria em êxtase e felicidade. No alto, sentiu que poderia voar junto a elas e soltou-lhes as mãos. Sentiu então, elas se distanciarem cada vez mais e começou a cair, cair e cair. Deu um grito assustador no meio da noite A companheira acordou com o grito e tentou em vão acordá-lo e depois reanimá-lo. Não foi possível, Foi seu último grito nesta vida. Seu coração não agüentou.