"O HOMEM DA JANELA"

...JÁ ERA TARDE...

NA VERDADE JÁ ERA MADRUGADA, ÉRAM UMAS DUAS HORAS, EU E MINHA INSÔNIA ROLAVAMOS NA CAMA, PARA LÁ E PARA CÁ, SEM PUDER DURMIR, A CAMA PARECIA TER ESPINHOS QUE NÃO ME DEIXAVAM QUIÉTA.

MAS DE REPENTE A CHUVA COMEÇOU A CAIR, ANTES FINA, DEPOIS TORRENCIAL, E ELA CAÍA COMO SE QUISESSE LAVAR TUDO QUE HAVIA POR ALÍ.

ENTÃO FUI ATÉ A JANELA DE VENESIANA, PINTADA DE ROSA, E JÁ DESCASCADA PELO TEMPO, E FIQUEI OLHANDO A CHUVA CAIR, LEVANDO TUDO RUA A BAIXO, ELA CAIA E PARECIA BRILHANTES SE DERRAMANDO NO ASFALTO, E EU ALÍ, OLHANDO A CHUVA QUE CAÍA DO CÉU, TÃO GROSSA, QUE PULAVA AO CAIR NO CHÃO..

E EU FUI SENDO TOMADA DE UMA ALEGRIA SEM FIM, DE UMA VONTADE DE SER LIVRE, DE ME LAVAR..E SAÍ CORRENDO E GANHEI A RUA DESERTA PELA MADRUGADA, A CHUVA ME PEGOU COMO NUM SOCO, E EU SAÍ PULANDO COM OS BRAÇOS ABERTOS, RODOPIANDO!

EU DEIXAVA A CHUVA CAIR EM MEU ROSTO, COMO UMA BRUXA NUM RITUAL DE PURIFICAÇÃO, A CHUVA MOLHAVA MEU CABELO, MINHA CAMISOLA FINA, E TAMBÉM MINHA ALMA.

EU ME SENTIA LIVRE, TAL COMO UMA CRIANÇA, PULAVA DENTRO DAS POÇAS QUE SE FORMAVAM NO CHÃO, PULAVA SOZINHA ENCOBERTA PELA NOITE, DE CHUVA PESADA..

ENTÃO, RESOLVI DEITAR NA CALÇADA, E É UMA SENSSAÇÃO DELICIOSA,PARECIA QUE A CHUVA QUERIA ME CARREGAR E EU ESTAVA FELIZ, LAVADA, LIMPA! FIQUEI UM BOM TEMPO ALÍ DEITADA SENTINDO A CHUVA CAIR SOBRE O MEU CORPO, E DEPOIS LEVANTEI..

ESTAVA TÃO MOLHADA, E TORCI A BARRA DA MINHA CAMISOLA, QUANDO OLHEI PARA CIMA, NUM SOBRADO VÍ UM HOMEM NO ESCURO DO SEU QUARTO, COM UM CIGARRO ACESO, PARADO NA JANELA, E ELE SORRIA PARA MIM..

FICAMOS NOS OLHANDO POR UM LONGO MOMENTO, E EU SORRI PARA ELE, LEVANDO A MÃO ABERTA EM MINHA BOCA MANDEI UM BEIJO PARA ELE...QUE ME DEVOLVEU SORRINDO.

ENTÃO SAÍ CORRENDO E ENTREI EM CASA, PENSANDO NAQUELE HOMEM DA JANELA, AFINAL ELE ÉRA MEU CÚMPLICE NUMA NOITE DE CHUVA..E COM CERTEZA MINHA ÚNICA TESTEMUNHA!

(um conto real)