A LIÇÃO DA FLOR
Vivia leve e fagueira
a jovem flor em botão
a dançar na brisa ligeira
vida lúdica e emoção
Tão imbuida em sonho
flertava com o sol a miúda
trançava suas folhas na relva
brindava com gotas de chuva
Mal sabia a doce muda
que a vida é traicoeira
e de uma brisa amena
nasce ventania rasteira
E água branda de então
que era de gotas singelas
transforma-se em vagalhão
arrasa tudo a procela
E ali está, moribunda
arqueada sobre relva dobrada
abrutalhada e confusa
indecente despetalada
Mas a natureza é sábia
e tece no frágil sua força
que mesmo em lamacenta poça
não está morta a flor
Pois seu corpo ora frágil
em verdade se faz ágil
não quebrou ao vento vil
mas arqueou e se fez lânguida
E quando o sol voltou vistoso
e a água celeste fugiu demente
caprichosa ergue-se a pequena
e se faz, outra vez, imponente
Dobrou-se ao vento bravo
deixou que bradasse seu uivo
que a tormenta achincalhasse seu talo
com chicotes molhados e doridos
Maleável, deu de ombros a tudo
como deve ser diante da lida
qualquer um que queira vencer
as tempestades da vida.