O Suicida
A carta já está escrita e posta em cima da mesa de jantar, a corda já encontra-se em meu pescoço, sinto já os meus batimentos cardíacos acelerarem... um momento de hesitação se apossa de mim... mas uma força irresistível me empurra para o fatídico momento. Pude ainda sentir por um segundo a corda obstruindo-me a respiração, tirando-me a vida... mas já é tarde demais, o fato está consumado; enfim poderei descansar, meus átomos hão de incorporar-se ao meio inorgânico, e do que era vida, apenas restará um cadáver.
Vejo meu corpo pendurado, desfalecido, ainda morno. Mas, oras, estou de pé... ainda respiro, e mais, ainda sinto a corda que me sufoca. Não pode ser, a morte não se consumou?Que pergunta sem nexo, ainda falo, ando, respiro e sinto, não estou morto. Estou tendo um tipo de ilusão causada pelo stress, só pode ser, tomarei um remédio para dor de cabeça e logo isso passará... e esse sufoco incessante... Ah, é só impressão.
Minha esposa vem chegando, ela certamente me abraçará e me acalmará. Por que ela chora? Esta carta não vale de nada, veja, estou vivo! Por que me ignora? Melhor eu sair um pouco, me distrair e colocar a cabeça no lugar. Já sei, vou visitar meu amigo.
Por que estão todos com estas caras tristes? Velório de quem? Oras, vou acompanhá-los, estão tão abalados que não conseguem falar-me.
A capela está cheia... deve ser alguém muito querido, deixe-me ver...
Não pode ser, que desespero se abate sobre mim! Eu que pensei tudo estar acabado após a morte, vejo-me dentro de um caixão!Agora esta dor faz sentido. Estou perdido, sou um suicida!
Deus? Cadê Deus? Eu nunca acreditei em Deus... o que estou dizendo... Não sei o que será de mim, não sei o que fazer. Só me restam o desespero, a confusão e a inquietude. Que Deus, este que renegava até agora, me perdoe!