Two, woman

Aquele dia era só seu, a sua despedida. Irias embora. A desculpa que nos dava era o estudo, mas sabíamos –eu e você- que irias sim, em busca dela. Eu, como te queria, mas não assim tão forte, nada tentei ou disse.

Fui te saber. Peguei o carro e viajei pequenas sete horas. Nada era esforço pra te ver uma primeira e ultima vez. Cheguei depois da celebração. Esperavas-me de pé, em frente a sua casa... trajavas um vestido solto, branco, curto e quase rodado... o que conjugava seu jeito à l’aise de ser. Os cabelos eram grandes e lisos, já os olhos que eram de um preto tão forte e que por isso me lembravam olivas, escondiam-se atrás dos óculos escuros.

Olhamo-nos durante algum tempo e, embora distantes, estávamos na mesma direção. Acreditava que houvéssemos superado a distância, mas eu, logo eu, surpreendi-me também usando óculos escuros!

Finalmente nos aproximamos. O abraço foi tímido, o sorriso sem graça e surpreso. E quando os corpos se deixaram, os dedos continuaram enlaçados. Entramos no carro e fomos em direção a praia, que ficava a dois minutos dali. Já passava das oito e o sol - como você- não mais estava por lá. Éramos eu, uma garrafa de vinho e o mundo, que a essa hora já insistia em também me deixar. Mas era essa ausência que nos mantinha ligadas. O silêncio também estava tão presente, que poderia mesmo ser sentido pesado e angustiante, embora não me incomodasse. O que mais me desconcertava eram a sua segurança e presença que, vindos de uma menina tão aparentemente frágil, nos faz vacilar.

Já na praia, sentadas na areia, trocávamos algumas palavras e pensamentos, anseios, devaneios e ambições, a intimidade se fazia. O irônico é que ainda te sentia longe... ou talvez fosse eu, não sei. Colocamos-nos de pé a andar... a areia timidamente brincava com os meus pés: eu ria. Nossos corpos lado a lado e relativamente próximos, as mãos que dançavam tímida e incessantemente... até que, finalmente, se encontraram. Dizíamos tudo e nada. Você era atenciosa e me confundia com seus momentos de evasão. Mas te compreendi, embora eu mesma me escapasse.

Fomos até o píer, nos debruçamos para olhar e ouvir o que o barulho bravo das ondas deixava. Eu já não cabia mais em mim. Até que veio decidida, pegou-me pela cintura e me levou ao teu corpo... e com cuidado e muita delicadeza, além de desejo – confesso- te beijei. Suas mãos sobre as minhas me prendiam a ti. A naturalidade como tudo se passou me surpreendeu. Deitei meu rosto sobre o seu ombro esquerdo e sentia não somente o perfume amêndoa que exalavam seus cabelos, mas sua pele que era macia e leve como os dias de outono que passamos em Paris.

O tempo se esvaiu com uma pressa incandescente. O sol estava novamente lá. Já era hora e precisávamos ir. Depois daquele aeroporto, uma vida toda ao lado dela te esperava. Dolorosamente me despedi, embora feliz e aliviada, pois pude entrar no meu carro e também partir.