Abá




- Aqui não, as cuecas é na outra gaveta, quantas vezes vou ter de dizer?
com as mãos em meu corpo olhei e vi uma mulher terminar de fazer um
buraco e nele me colocar, olhou para mim e disse
- Seu sabor foi um dos mais doces que já comi não é justo você acabar aqui
Fez o buraco, me colocou dentro e começou a jogar terra em minha cabeça
até eu sumir, foi como se estivesse me amamentando , que delicia e eu nem
sabia o que eu era e já me sentia feliz.
Lembro do primeiro dia que coloquei meus olhos para fora da terra, a
primeira imagem que tive foi o daquela mulher que ali me plantou, uma
mãe sim isso mesmo, minha mãe, percebi uma linda casa, muitas arvores
já grandes, se em algum momento tive medo ele logo se foi pois as
outras arvores me disseram...
- Venha menina, nasça tranqüila que aqui somos bem cuidado pois essa
mulher nossa mãe é um amor
Comecei a crescer e tirar as manguinas de fora, um galho aqui outro ali,
folhas lá folhas aqui e bem devagarinho fui subindo e querendo aparecer.
Eu já tinha uns dois metros de altura e só ai percebi que minha mãe não
havia me percebido, via quando ela levantava todos os dias antes mesmo
do sol dar sua cara, alimentava os animais e eu só a olhava mas não
recebia seus olhares e havia uma desculpa para ela, eu estava rodeado
de outras arvores alias lindas arvores.
Cresci mais um pouco e comecei a fazer amizade com os bichos,
principalmente as galinhas pois percebi que em mim nas noites elas
começaram a dormir, antes de pegar em seus sono, conversávamos,
perguntava a elas como era a vida de poder ir e vir.
- é muito bom, brincamos, comemos milhos , quando da tempo namoramos mas isso só quando o galo não esta muito cansado
- e como é ser uma pequena arvore?
- é muito bom também, danço quando o vento vem, me divirto muito em ver
vocês correndo uma atras da outra mas o que gosto mesmo é quando
escurece e vocês vem para cá para conversar e dormir.
- então você é uma arvore feliz?
- mais ou menos
- como assim?
- fico olhando daqui a mamãe dando milhos para vocês, vejo com que
carinho ela fala, já e eu ela nem sabe que existo.
Ao escutar aquilo todas as galinhas que estavam em meus galhos olharam
uma para a outra com interrogação e uma delas disse.
- Gente, que dó da arvorinha, precisamos fazer alguma coisa urgente,
pois eu fiquei sabendo pela aquela galinha velha e fofoqueira do sitio
do lado que uma arvore morreu de desgosto só porque o dono de lá nem
olhava para ela
Ao escutar a galinha falar aquilo eu fiquei apavorada meu galhos ate
dobraram de medo fazendo com que quase todas as galinhas caíssem ao
chão, comecei a sentir frio e parecer doente, a partir daquele momento
ela voltaram imediatamente e tentaram me acalmar
- não fique assim, vamos fazer algo para te ajudar.
aquelas palavras me tranqüilizaram e no segundo seguinte já me senti
melhor sabendo que ali tinha amigas que pensavam em mim , apesar de
ouvir uma safadinha dizer
- ufa quase perdemos nossa cama.
Percebi que logo cedo ao acordar quando mamãe saiu para dar comidas ao
animais as galinhas que estavam em meus galhos nem se mexeram achei
estranho pois elas eram sempre as primeiras a ficar na porta da casa e
comecei a escutar a mamãe gritar
- galinhas, galinhas, galinhas olha o milho có có có olha o milho
ela jogou os milhos no chão e nada das galinha aparecer, elas
continuaram em meus galhos, nossos raciocínios eram diferente e eu não
entendia qual era a tática delas, só sei que passou uma hora e apareceu
alguém muito bravo, o Sr. galo
- porra meu , ses tão loucas, vamos lá desçam já dai se não vou dar
porrada em todas não vai sobrar penas sobre penas
Naquele momento percebi como as galinhas ficaram com medo e como o Sr. galo era bem superior a elas a ponto de impor seus pedidos, me senti na
obrigação de ajudar, mas como fazer sendo que eu ainda tão pequena não
tinha experiência de vida, não sabia ainda dos meus poderes, quando de
repente uma voz me veio
- Use sua raiz matriz
- Quem esta falando?
- Eu aqui atras
olhei para atras e vi uma enorme arvore sorrindo para mim e era ela
que estava falando, eu já deveria ter uns oito meses de vida e nunca
havia visto uma arvore falar.
- Não tenhas medo, estou vendo o seu desespero em relação a mamãe pelo
fato de ela ainda não ter percebido você, mais isso é normal, logo ela
percebera que já nasceste
- Porque só agora você esta falando comigo sendo que estou aqui a tanto
tempo
- você aprendera com o tempo, conversamos apenas quando necessário e
senti este ser o momento
- veja o galo ele esta louco para catar as galinhas que estão em você e
se não fizer nada pode ser que ele venha a conseguir e ai proibirá de
elas voltarem, use a sua raiz matriz é aquela que vai ate o fundo a que
mais te sustenta, com ela você conseguira expor ela para fora da terra e
ai dará uns belos tapas neste galo e ele não mais voltara aqui.
- jura que posso fazer isso?
- claro, tente agora
Vamos galinhas, se não descer dai já amanhã colocarei todas de castigos
De repente comecei a pensar em defender as galinhas e logo algo começou
a mexer por debaixo de mim sentir ser minha raiz matriz, ia para um
lado ia para o outro e comecei a perceber que era eu quem estava
controlando sua direção e ai fiz com que ela saísse do chão e fosse
direto ao pé esquerdo do galo batendo com tanta força que ele deu um
grito nunca dado antes.
–coooooooooooooocoorooooooocoooooocoooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!
saiu correndo para o fundo do sitio e durante um bom tempo não mais
apareceu pelos meus lados.
O dia continuou e nada das galinhas descerem de mim ,virava e mexia mamãe saia para fora de casa e olhava para ver elas e nada , até o momento que entrou em desespero quando viu os porcos comendo os milhos
- vamos saiam daí, vocês já comeram e esses milhos são das galinhas,
alias onde estão essas malditas.
então ela saiu pelo sitio a procura até o momento que chegou a nós
- achei suas malandrinhas, desçam já dessa arvore vamos, vamos
as galinhas foram pulando uma a uma e correram desesperadas ao seus
milhos, famintas como nunca, mamãe nem me reparou, virou e antes que
desse o primeiro passo de volta, minha raiz matriz saiu um titiquinho de
nada para fora da terra, se colocou na frente de seu pé e fez com que
ela caísse, não chegou a se machucar, começou a rir por ter caído
sozinha e ali ficou por alguns segundo sentada e pensando
- nossa acho que estou trabalhando de mais, já nem estou conseguindo
parar em pé, quando de repente começou a olhar em minha direção e
sorrir
- abacatinho safado, você vingou mesmo!
vocês alguma vez em suas vidas viram uma arvore ficar feliz de verdade?
pois ali naquele momento eu estava e muito e quando isso acontece
começamos a ficar quente, quente, quente e com isso deslocamos o ar que
esta ao nosso lado criando uma grande ventania e nela dançamos e
ninguém percebe, então quando ver uma ventania do nada chegar tenha a
certeza que alguma arvore por perto pode esta muito feliz naquele
momento.
Mamãe olhava para mim com um geitinho todo especial, que delicia aquela
sensação, chegou pertinho e começou a passar suas mãos em minhas
folhas, fiquei todo arrepiado, deu me um beijo e se foi.
Percebi naquele momento que todas as arvores que estavam próximas também ficaram felizes com a minha felicidade, aquele dia estava muito quente e lembro momentos antes mamãe reclamando do calor e dessa vez todas juntas unimos nossas forças e trouxemos uma deliciosa brisa refrescando todo o sitio.
Na manhã seguinte todas acordaram lá pelas dez da manhã, de bronca o
galo deu o cano em todas.
O tempo foi passando e fui crescendo, meus galhos mais baixos se
tornaram altos para as galinhas subirem e elas procuraram outra arvore
para ficar e não mais conversamos, minhas novas amizades se tornáramos
pássaros só que eles não eram muito de ficar batendo papo, o negocio
deles eram apenas cantar e eu me satisfazia em escutar suas lindas
canções Fui crescendo e sempre de olho na mamãe, os hábitos dela eram sempre os mesmos, levantava cedo, dava comidas para os animais, com as
janelas aberta era possível eu ver ela arrumando sua comida e a casa,
vinha as noites e sempre na varanda ficava na companhia de seus
livros e assim os dias passavam.
Lembro quando dei meus primeiros frutos, mamãe veio em minha direção,
colocou uma escada em mim e começou a subir e a colher e disse.
- que delicia aqui estão as filhas daquela semente que um dia plantei
- Epa, filhas?, quer dizer então que agora eu sou mamãe
Olhei para os lados e não mais para cima como sempre fazia e só ali
naquele momento é que percebi que eu era a mais alta arvore da região,
naquele momento é que eu senti como as coisas haviam mudado e eu nem
havia percebido, ali eu era uma arvore já mulher ,mãe e o mais
importante a mais alta de todas, agora com toda aquela altura eu podia
até ver lá no fim da colina a cidade que tanto a mamãe ia.
O tempo foi passando e comecei a perceber algo estranho acontecendo,
um homem começou a vir com freqüência no sitio e com isso uma certa
felicidade estampada no rosto de mamãe, cada dia que passava mais
feliz ela ficava e mais íntimos, estava feliz por ela, só estava
preocupado porque comecei a perceber que ela estava engordando muito e
logo ela que perdia tanto tempo em frente ao espelho de seu quarto
preocupada com sua beleza, passaram mais alguns dias e de repente do
nada ela saiu de casa magrinha, magrinha com alguem em seu colo e ao
olhar firmemente percebi que ali estava uma semente, sim isso mesmo
uma semente dela, fiquei apavorado e comecei a gritar
- Mamãe plante logo se não ele vai morrer, põe em um buraco e jogue
terra em cima se não ele não vai nascer .
Mas percebi que meus gritos eram em vão, ela não me escutava, quando
uma pequena velha arvore ao lado me falou
- Minha filha fique tranqüila aquela semente que esta no colo da mamãe
é apenas seu filho, foi plantada em sua barriga de forma diferente
que nós, fique tranqüila.
Agradeci aquela senhora arvore pela explicação e também por te- La
falado comigo pois fazia tanto tempo que não ouvia outra arvore, que
pena que só conversamos quando necessitamos.
Dali em diante meus olhos se dividiam entre a mamãe minhas frutinha e o
Carlinhos, isso mesmo o nome dado a ele foi Carlos, pois era um tal de
Carlinhos para cá Carlinhos para lá e ele mudou totalmente os hábitos
de nosso sitio
Dali em diante comecei a presenciar o dia, dia de mamãe e Carlinhos e o
que mais percebia é que todas as tarde eles ficavam em baixo de mim horas
e horas e estávamos muito mas muito íntimos mesmo Carlinhos me chamava de
Aba.
- Carlinhos vamos descansar embaixo do abacateiro
- abá, abá, abaaaá
- você gosta de ficar aqui nesta sombra em meu amorzinho?
- abá, abá
E assim que ele se referia a mim Abá, lembro muitas vezes logo de manhã
ao sair de casa engatinhando, os gritos que dava quando para mim
olhava.
- aaaaaabaaaaaaaaaaaaa,abaaaaaaaaaaaaa
Vendo como mamãe cuidava de Carlinhos também comecei a cuidar melhor de mim mesma, comecei a pensar mais em minhas frutinhas , queria elas grandes e saborosas, passei a respirava mais profundamente o ar que até mim chegava e os raios solares que batia em minha cabeça como eu os  agradeciam por eles
Em todas as manhãs logo após o cantar do galo ,mamãe acordava e saia
para fora de casa e logo atras vinha ele o Carlinho , ali já com
seus três anos e repetia tudo que mamãe fazia, terminando as tarefas
ela entrava para arrumar a casa, mas ele não, ele ficava lá fora
brincando com os animais, sempre quando passava perto de mim eu mexia
com ele
- Carlinho, Carlinho corre que eu vou te pegar, vou te pegar
percebia que ele não me escutava mas pressentia e não é que ele saia
correndo, apavorado para porta da casa e ficava olhando em minha direção e
o mais legal é que eu também pressentia o que ele pensava quando estava
olhando para mim
- Abá boba eu não quero brincar com você!
Eu o achava uma gracinha que delicia era olhar ele principalmente
nesses momentos que nos comunicávamos
O tempo foi passando e Carlinhos crescendo entre nós se criou um
sentimento de carinho e muitas vezes ele vinha sentar embaixo de mim e
lá nada falava só pensava e dessa forma conversávamos, o som entre nos
ali não existia e então ficávamos em nossos pensamentos.
O tempo continuava passando e um certo dia percebi algo diferente,
acontecendo dentro da casa , roupas eram guardadas em caixas e colocadas em um canto da casa , logo em seguida vi Carlinhos saído correndo echorando sentou ao meu lado e pensou para mim dizendo
- abá eu não quero te deixar, mamãe disse que amanha vamos mudar para a
cidade
- mas porque ela quer ir, sinto vocês ser tão felizes aqui
- ela disse que preciso estudar e que se continuar aqui nunca vou ser
ninguém na vida
- Carlinhos não chore, Aba nunca vai deixar de pensar em você e outra, a
cidade é perto e aqui do alto estarei sempre te vendo, não é longe e você
poderá vir aqui me ver também, vá meu menino ela só esta pensando no seu bem
Carlinhos levantou olhou para mim, senti nele que o desespero passara após nossa conversa, deu um sorriso e voltou para casa pulando e cantarolando e eu, desabei a chorar, sabe como choramos, nossas folhas caem quase que todas ao mesmo tempo, mas relutei e parei pois pensei em minhas frutinhasque estava por vir e fingi para mim mesmo dando falsos sorrisos.
A mudança aconteceu, lembro me apenas de mamãe e Carlinhos olhando
para traz e abanando suas mãos dando tchau para mim ,me aqueci como
nunca e trouxe uma terrível ventania e assim fiz com que todos meus
galhos balançassem como se estivesse fazendo o mesmo gesto de tchau
- Tchau meus amores
Olhei para todo o sitio e percebi que todos os animais haviam ido
também, foram vendidos para um senhor de outro sitio e me veio um vazio
tão grande quando de repente comecei a escutar uma canção muito linda,
percebi que ela vinha de um de meus galhos, olhei e vi que era um lindo
pássaro verde que estava cantando e perguntei.
- Ei você ai em meu galho , que musica linda é essa?
- gostou
- sim, você vem sempre aqui
- nunca saio daqui
- como assim, você esta em mim e vem com esse papo de que nunca sai
daqui, que historia e essa , teria percebido logo essa linda musica
- é minha amiga mas não percebeu não, sua atenção estava apenas para
sua mãe, suas frutas e o seu carlinhos, sempre estive aqui cantando
Percebi naquele momento que deixamos de viver coisas linda quando nossa atenção esta direcionada a apenas um lado, não que não estivesse boa do jeito que estava, mais haviam outras coisas ao meu redor que também eram lindas e que só vi porque outras se foram e daquele dia em diante comecei a escutar tantas lindas canções que os pássaros sempre cantaramem meus galhos.
Agora Carlinhos e mamãe longe e o sitio entregue aos cantos dos
pássaros, as arvores e os matos que nasceram por todos os lados,
percebi que eu crescera mais e agora eu podia ver melhor a cidade,
passava meus dias olhando, o tempo ia passando e a cidade ia crescendo
a cada tijolo que era colocado na construção de cada casa eu
acompanhava pois queria ver tudo que acontecia onde Carlinhos morava,
vivia minha vida aqui e não tirava meu pensamento de lá.
Os anos foram passando e a cidade foi chegando cada vez mais perto,
eu já nem precisava fazer tanto esforço para olhar, pois casas
estavam sendo construídas já a meu redor e com isso, crianças que se
mudaram para elas começaram a brincar até em meus galhos e aquilo me
fez sentir tanta saudades do Carlinhos .
Agora para qualquer lado que eu olhava eu via casas e já nem mais os
pássaros cantavam mais como antigamente pois minha atenção estava
voltada para os movimentos dos habitantes que ao meu redor moravam e
vou te dizer uma coisa ,como era cansativo, pois já não tinha a mesma
paciência e comecei a perceber que a idade estava chegando, será que
eu estava ficando velha?
Um dia vários carros chegaram ,as pessoas desceram e começaram a tirar
fotografias do local e fazer medições achei estranho pois já havia
visto aquele tipo de movimentações em outros bairros próximos onde
depois prédios foram construídos, fiquei assustado, pois lá muitas
arvores foram derrubadas, será que acontecerá o mesmo aqui ?
Eles se foram mais não demorou muito, dias depois começaram a chegar
vários caminhões, tratores e operários e percebi que meus dias estavam
contados e estavam mesmo até chegar o momento de eu ser derrubada, foram me cortando aos poucos e sem que nada doesse, senti me se desfazendo aos poucos, foram me cortando, cortando, cortando e antes que terminassem minhas raízes se soltaram e se aprofundaram na terra sem minha ordem e ali percebi que eu estava sendo dividida em duas eu a pensante que se tornaria madeira e que nunca deixaria de pensar e a outra, minhas raizes, elas irracionais que em momento algum aceitaria deixar de viver e lá no subsolo teria suas novas vida
Agora cortada em vários pedaços e jogada em um canto do terreno eu
deveria escolher em que pedaço de mim eu iria continuar pensando, isso
que esta acontecendo, acontece com todas as arvores, nós morremos mas
nossos pensamentos não, então escolhemos um pedaço a ali continuamos
a viver em pensamentos, seja lá o que venhamos a ser.
Os dias foram passando e tudo que foi sobra do terreno foi colocado em
um galpão, eu também, meus dias eram apenas em pensar no que pensar e
nada conseguia pensar até que comecei a ouvir uma voz do lado de fora
que me chamou muito a minha atenção, um homem começou a dar ordens
para os outros que estavam trabalhando e senti ali estar ele , sim o
meu CARLINHOS
- Carlinhos sou seu Abá , o seu Abá, Carlinhos, Carlinhos
A porta do galpão se abriu e vi um homem entrando era ele e como estava
diferente a cara da mamãe, meu Carlinhos ali depois de tanto tempo, ele
veio em minha direção olhou para mim e disse
- Aqui esta exatamente o tipo de tronco que estou procurando
- Jorge coloca este tronco em meu carro que vou levar para casa
- O seu Carlos mais uma escultura?
- Sim estou com uma idéias em mente
Uma idéia?
que será que meu Carlinhos esta fazendo da vida, agora
naquele tronco eu não sabia do era capaz, pressenti ele fora do galpão
mas não consegui ler seus pensamentos como antigamente, ele veio para
o carro, alias uma senhora caminhonete, olhou para mim , sorriu, como
se estivesse me reconhecendo, acelerou e saímos, foi entrando cidade a
dentro até parar em frente a uma linda casa, desceu do carro e gritou
Júnior vem ajudar o papai
ajudar o papai? caramba, minha mamãe já era vovó, e onde ela deve estar?
como foi que me perdi tanto assim no tempo, pois para mim o Carlinhos
ainda seria uma criança
Juninho veio em nossa direção, um menino de seus quinze anos mas já
crescido e forte
- O que é isso pai
- um pedaço de tronco que achei lá na construção
- e que vai fazer com ele
- uma porta, a porta do meu novo guarda roupa
- guarda roupa novo, posso ficar com o seu?
- claro que não, quando mudarmos para o apartamento novo vou querer
tudo novo, ok?
me pegaram e fui levado para os fundo da garagem e lá fiquei alguns
dias até escutar uma voz que nunca esqueci, sim mamãe acabara de
chegar, percebi que conversava com Carlinhos até o momento que vieram
em minha direção, ao ver mamãe algo de diferente comecei a sentir, um
batimento forte e percebi que o que estava sentindo era o coração de
mamãe batendo, percebi ali uma mulher idosa ,corpo inclinado e cansada
da vida e pálida, Carlinhos observou que ela não estava bem e perguntou
- Algum problema mamãe
- não sei filho, acho que me emocionei, não sei porque, esse tronco.
Carlinhos levou mamãe para dentro de casa e por um bom tempo não mais a vi
Durante a semana eu não via Carlinhos que trabalhava fora percebi que
ele era arquiteto e estava trabalhando em grandes projetos e um deles
era o prédio onde iríamos morar, pois nos finai de semana quando
estava em casa vinha para os fundo da casa e lá fazia o que realmente
gostava, mexer com madeiras, percebi que fazia de tudo, alias tudo que
achava pela ruas trazia para casa, todos os tipos de madeira e eu
estava virando a porta do seu guarda roupa e o mais legal é que este
guarda roupa tinha todo os tipos de madeira, percebia ele colocando um
pedaço aqui outro ali e comecei a pensar se todos os outros pedaços
estavam pensando como eu e se sim como poderíamos nos comunicarmos.
um dia vi Carlinhos chegando triste em casa e percebi nos seus
pensamentos que o problema era com o prédio onde iríamos morar, algo
de errado estava acontecendo, sabia que este prédio seria uma coisa
inovadora em termos de arquitetura e ele estava jogando todas as suas
cartas ali e o que eu poderia fazer para ajuda sendo que naquele
momento eu era apenas a porta de um guarda roupa e nada mais, fixei
meus pensamentos nele e comecei a perceber que tinha a capacidade de
buscar pensamentos de seu passado ressente e senti que o problema
estava no solo onde o prédio estava sendo construído, o prédio já
estava quase pronto com os seus quatro andares e teve uma pequena
inclinação para a esquerda coisa que ninguém poderia explicar o que
estava acontecendo, pois Carlinhos já era um arquiteto de renome e
tinha uma equipe de engenheiros de primeira e ninguém consegui
entender o que estava acontecendo, comecei a pensar mais que nunca
quando veio em minha mente que parte de mim, minha raiz havia ficado
lá em baixo ainda viva e que poderia ser ela a causa das mudança do
solo, teria eu poderes para ajudar, sendo que era parte de mim
que estava causando todo aquele transtorno, fiquei dias vendo o
desespero de Carlinho e pensando o que poderia fazer até
que um certo dia algo veio em minha mente e do nada comecei a mandar
pensamentos para Carlinhos dizendo que deveria finalizar as obras do
prédio e que nada aconteceria, mandei vários pensamento otimista para
ele, foram tantos que acabou dando certo, Carlinhos mudou totalmente a
partir daqueles dias até chegar o momento de o prédio ficar pronto,
nele a duvida sobre o insegurança do prédio se foi e dias depois para
lá se mudamos
O prédio era a coisa mais linda do mundo uma coisa nunca vista antes
totalmente inovadora, nosso apartamento era no quarto andar, fui
colocado no quarto e bem de frente com a janela que dava para a cidade
e ai que me surpreendi pois eu estava exatamente na mesma posição de
quando era arvore, tinha a mesma paisagem que antes, nunca imaginei
que continuaria vivendo no mesmo local mas agora como um guarda roupa,
o solo lá embaixo se firmou sim porque consegui com meus pensamentos
fazer com que minhas raízes parassem de se mexer e elas só o fizeram
quando perceberam que eu viria morar próximo a elas, alias ficaram em
uma posição dando mais sustentação ao prédio.
Bom e minha vida passou a ser a melhor vida do mundo, passei a ter a
visita de mamãe vez em quando, via meu Carlinhos todos os dia ,só uma
coisa me deixava triste, ele nunca colocava as cuecas na gaveta certa.
- Carlinhos ai é o lugar das camisetas.