União

As cortinas se fecharam. Não houve aplausos, apenas soluços insignificantes no imenso salão. O menino espremia lágrimas por entre os olhos em um choro visivelmente doído. Por toda a apresentação ele fora toda a platéia, vibrou com a protagonista, chorou com ela, torceu por ela, a amou. Nunca vira uma personagem tão incrível, tão avassaladoramente envolvente. Naqueles curtos instantes da apresentação, sentia como lhe conhecesse desde sempre. Sentia como se tivesse nascido com o abrir das cortinas e agora chorava sua própria morte.

A cortina se abriu mais uma vez. Apenas ela estava lá, esperando a ovação. Sorridente, radiante, completa. Avançou à ponta do palco e fez seu cumprimento. Não havia palmas, o menino não conseguia. Toda vez que seus olhos tocavam aquela figura, se protegiam com lágrimas. Chorava por antecipação, pois sabia que aquele seria a última vez que a veria.

Em um momento de desespero, lançou-se ao pé do palco e segurou a barra da saia da menina, quando ela estava prestes a sair de cena. Esperava xingamentos, reclamações, qualquer emoção que ela despejasse nele já lhe valeria. Apenas o silêncio veio. Ainda aos prantos, o menino olhava para o chão, pois seria vergonhoso demais encará-la nos olhos nesse momento. Seu pulso era firme, irredutível.

Ergueu lentamente a vista. A menina o olhava com indiferença, mas sem desdém. Esperava que ele tomasse uma decisão, quer fosse puxá-la à força ou largá-la. Ela estava ali, paciente, esperando. Para ele cada momento era uma eternidade. Nenhum dos dois sabia até quando ficariam ali.

Mas ambos ficaram juntos até o fim, se é que houve um.