ROLOU UMA LÁGRIMA
Pobre mulher que na sua branca cabeleira, com olhos afetados por cataratas, passa os dias sentada na sua cadeira de balanço como a embalar os sonhos e decepções, na recordação da sua juventude. Dia após dia carrega no no rosto o semblante e nos olhos a amargura, da triste separação. Tudo podia ser diferente, se na cidadezinha do interior onde morava, não tivesse apenas o básico na área da educação. Quase todos os rapazes numa certa idade, iam para a cidade grande (assim que se referia ao Rio de Janeiro), onde o progresso atingia o ponto máximo, por isso era o berço da boa educação, mas também o desespero das moças, que tão cedo viam partir aqueles jovens que já faziam com que suspirassem. Mas uma delas tinha namorado firme e foi com dor no coração que viu partir o seu grande amor, O curso que ele foi fazer no Rio, era de quatro anos, e nesse ínterim, a saudade fez morada em seu coração, deixando sua alma em desespero. Ele, o namorado a visitava de quinze em quinze dias, mas já fazia uns três meses, que ele não aparecia e nem mesmo mandava um telegrama. Com semblante abatido e olhos sempre vermelhos e inchados de chorar, consequência das noites mal dormidas, ela em seu íntimo, sabia que se ainda não o tinha perdido, com certeza estava por acontecer. E num sábado quente de sol forte. O rio da cidade estava lá, com suas águas geladas convidando para que as pessoas fossem nele se refrescarem. Tão bela criação da natureza foi o palco da sua grande tristeza! Ela não viu quando o ônibus chegou na pequena rodoviária da cidade, que nada mais era que um ponto de ônibus, que nas suas idas e vindas levantava poeira, levando ou trazendo alguém muito querido para o povo daquela cidadezinha.
Mas nesse dia, ele trouxe sim o seu amor, porém, acompanhado de linda moça, sofisticada, de ares de moça da cidade. Tamanha foi sua amargura, que ao ver seu rosto refletido nas águas do rio, ela viu o retrato da dor nele estampada e desde aquele dia, passou a viver de saudades de um amor que não vingou, porque só uma das partes que se doou. E ainda sentada na sua cadeira de balanço, ela depois de ter vivido uma outra vida, não aquela que sonhou e gostaria de ter vivido, mas viveu com intensidade o que a vida generosa lhe ofereceu. Não consegue deixar de olhar para dentro de seu coração e procurar nos arquivos da memória amarelada pelo tempo. Os lindos momentos que sonhou viver, com o jovem, o primeiro amor que por todos esses anos esteve presente nos seus sonhos... Então, ela seca a única lágrima que rolou.
24/11/2008
Sonia Barbosa Baptista