A Morta

Fritz Ellan, era um homem de meia idade, aparentemente normal. Gostava de diariamente ir ao boteco da esquina tomar uma cerveja, e às vezes, gostava de tomar uma dose de tequila ou vodka – isso quando lhe sobrava alguns trocados.

Morava este em um bairro pobre na cidadezinha de Estrela Capela – onde nesta cidade, há muitos avistamentos de UFOs, e dizem vir esses óvnis da Estrela Capela, de nosso sistema planetário.

Fritz. Dizem ser um homem meio que maluco. Muito culto e inteligente. Membro de um grupo de pessoas que praticam a TCI (TransComunicação Instrumental) e garante entrar em contato regularmente com entidades extraterrestres – mas não entraremos em detalhes, nem eu tenho certeza se ele o faz mesmo...(risos).

Nosso Fritz, como já foi dito, ou melhor, escrito, é um homem de meia idade, aproximadamente 47 anos. Levava uma vida normal, sem preocupações. Mas gostava muito de uma certa Ana Júlia, que morava em seu bairro. Sobre isto ela sabia, mas não dava a mínima, afinal, ela o achava muito estranho, deprimido... e a diferença de idade era grande. Mas com isso, Fritz não se importava, simplesmente a amava e sonhava em se casar com Júlia, mas na verdade o que mesmo queria, nem que fosse apenas uma vez e nunca mais, era dançar com esta. Sonhava em dançar, apenas dançar se possível, e não descansaria ate conseguir.

Ele vivia por ela, mesmo tendo o amor não correspondido. Ele a queria de qualquer forma, mas era um pouco tímido e não mostrava muito afeto por esta, que a ele só tinha desprezo.

Certa tarde, Ana Júlia, passava frente à casa de Fritz e este foi ter com ela:

- Por favor, escuta-me. Serei breve.

- Sim. O que quer?

- Dance comigo!

- Quê?

- Sim. Dance comigo, aqui, agora. Só lhe peço isso.

- Mas querido – esta não se importava com ele, mas não o tratava mal, sempre com muita gentileza e afeto, isso por todos – queres dançar comigo aqui na rua?

- Sim, pois a amo, sei que sou um velho, mas a amo, e sabendo que nunca serei correspondido, peço apenas uma dança.

- Tu es um velho louco! Deixe-me em paz e não me procure.

- Mas...

Ela se foi, e Fritz chorou como uma criança, quando lhe tomam o brinquedo. Entrou e chorou em seu travesseiro, olhava e conversava consigo mesmo frente ao espelho.

“Será que sou tão feio? Horripilante...? Por que a vida tem de ser assim?” Ele a amava tanto, mas tanto, que se dizia viver por ela, e a única e simples coisa a qual almejava era dançar com essa menina, sua menina. Era um amor inocente, lindo, adoravelmente lindo e raro. Tudo que ela fazia, construía... em sua mente, era tudo para ela. Ela era o centro de seu pequeno mundo. Ele a considerava sua Deusa. E sonhava em dançar com essa Deusa... – talvez, ele criara em sua mente a imagem de uma Deusa refletida em sua amada, sendo ela sua Deusa, sua maior crença, ele nunca poderá toca-la ou entende-la... nunca poderá ter-la.

Mas o pior aconteceu. Ana Júlia morreu. Suicidou-se.

Quando Fritz soube da noticia, seu mundo parou de girar, acabaram-se suas crenças. Sua menina, sua amada Deusa já não estava mais lá... E tudo o que ele queria era apenas uma dança...

Júlia, sua menina, foi enterrada no cemitério próximo. E na noite seguinte, fritz estava com um sorrisinho no rosto. Deu meia noite e se aprontou para sair. Foi em direção do cemitério, com uma pá, uma lanterna e um pequeno radio.

O sorriso não saia de seu rosto. Pegou a pá nas mãos e começou a cavar sobre a cova de sua menina. Desenterrando-a e levando-a a seus braços. Estava tão linda cálida e serena; por outro lado, lívida, gelada...morta. Mas para ele, era a mesma Júlia, que caminhava frente sua casa sempre tão linda. Era a mesma menina, a sua menina.

Fritz ligou o seu radio bem baixinho, pegou Júlia entre os braços, dançou... e dançou. Sua alegria era grande. Dançou alegremente com a morta, sua Deusa, sua menina.

Fritz a enterrou novamente, e a partir daí, viveu seus dia feliz e realizado, pois a única coisa a qual almejava era dançar com sua menina, e isso, ele já realizou...

Mas Fritz ainda aguarda ansioso o dia de sua morte, para encontrar sua menina, e ai sim, ficarem juntos eternamente... Dançando tanta dança... E enquanto espera, ele vai todas as noites, no quintal de sua casa observar as estrelas e imaginando que ela esta do seu lado, conversar com sua Deusa...

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 30/11/2008
Código do texto: T1311874