Xadrez

Sassá entrou em coma. Nesse período viu seus mais profundos pensamentos corroerem sua civilidade. Uma oficina de projetos nefastos sem ação. O único ferido nessa disputa de Sassá contra Sassá era Sassá.

O amor peça gasta da engrenagem corroída pelo veneno cotidiano, agora era um contra o outro. Um jogo de xadrez aonde os dois reis eram um só. Um período de estudo da alma, aberturas, armadilhas, garfos e ritmo. Grandes passaram por ele como Capablanca, Alekhine e Kasparov. Ele analisou todos e gostou do que viu. A estratégia estava armada, Sassá queria sair do coma, mas o coma era profundo o bastante para trazer o desejo final. Pessoas passavam em alta velocidade em sua mente. Todos os desejosos injustiçados pela mão sangrenta de Sassá. Sassá já não se chamava, chamando a chama do terror impotente que internamente chutava as paredes do trauma. O objeto aos poucos foi virando uma mera conseqüência, mas ainda ardia nas mãos trêmulas. Com o tempo ele começou a enxergar a saída. O cheiro de fora invadia seus pulmões com a esperança do cego de sentimento ao sentir o carinho da mão que desprezou sua pele.

A hora se aproximava, sentia isso a cada instante. O negro começava a alvorecer. Estudar e usar a grande estratégia salvava-o dia a dia. Capablanca, Alekhine e Kasparov o salvavam cada dia.

Esse era um processo lento, exigindo a paciência de jogar por horas a partida mais importante já disputada. Só que aonde sempre houve um peão marcando, agora estudava a chance do sacrifício. A dama já não ameaçava a investida corajosa de uma vida cheia de erros aprendidos a dura dor da carne. Seu corpo não era mais dele, mas voltava a ser a cada instante. Pela primeira vez na vida Sassá era dono de sua verdade.

Sassá abriu os olhos e viu o mundo sorrindo para ele. Muitos que ele não notou davam a ele a chance de mostrar o que de bom trás um homem marcado pelas chamas do conflito interno. Sassá seguiu os passos dos mestres, fez sua vida no tabuleiro renascer como renasceu cada chama em seu coração. Chamou a atenção daqueles que se fazem ouvidos por todos que ouvem e deu nome a frase:

“Homem sai do coma para o tabuleiro e vence”.

Qualquer adversário seria subestimado pelas mãos daquele que jogou contra si mesmo e venceu. Sassá renasceu.

Igor Rykovski
Enviado por Igor Rykovski em 29/11/2008
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