Pleurer

Pleurer, um francês nacionalizado Brasiliense. Ele, como todo francês, carrega consigo um ar de mistério e boemia. Todas as noites o podem ouvir tocando sua viola e cantando seus lamentos, na janelinha de seu apartamento, pequeno, sujo, úmido. Um quarto, uma cozinha e um pequeno banheiro. Lá vivia. Lá meditava seus pensamentos solitários. Sua indignação com a vida. Não a compreendia. Não a suportava. Vivia por viver. Esperava-se morrer. Só esperava.

Considerava-se inteligentemente superior a todas as vidas que rondavam sob sua janela. "Que pensam esses seres?" Observava do alto de sua janelinha as pessoas, mais mortas que ele. Ele as considerava mortos-vivos. Zumbis. "Que sabem sobre a vida? Que sabem sobre eles mesmos? Estão mais mortos que eu, que já não a vida agüento mais".

Vivia ouvindo seus discos do Foghat, Sweet, Ufo e Slade(seus 4 preferidos). Tomava meia garrafa de whisky por dia e fumava seu cigarro mentolado um atrás do outro.

Quase nunca saia de casa. Não gostava de se misturar dentre os mortos da rua. Mas uma vez e outra, quase nunca e sempre, precisava sair para comprar algumas garrafas de whisky. Mas preferia sempre ir de noite. Essa hora, haviam menos zumbis nas ruas. Saia esse, sempre acompanhado de sua arma, "nunca se sabe quando um destes vão nos atacar" dizia.

Andando por uma ruazinha estreita e escura, vinha vindo em sua direção um homem. Pleurer entrou em desespero. "O que esse tal vai fazer comigo? Preciso pensar em algo, rápido". O homem veio apertando o passo, e colocou a mão direita dentro do bolso. "Meu Deus! Ele esta vindo em minha direção... ele apanhou alguma coisa do bolso... rápido, Pleurer. Pense em algo...". O homem que vinha vindo, foi tirando a mão de vagar de seu bolso, quando em um súbito movimento do transeunte, Pleurer pega de sua arma e dá-lhe três tiros na cabeça. Matando-o de imediato. Quando Pleurer viu, no bolso de sua vitima, era apenas um cigarro...

Pleurer chorou, e chorou aos soluços. E pensou em que fazer com o corpo. Decidiu leva-lo ao seu apartamento.

Chegando lá, Pleurer o jogou sobre o chão da cozinha, colocou um disco do Alice Cooper, acendeu um cigarro e pegou uma das ultimas garrafas de whisky. Voltou a chorar: "era apenas um cigarro... eu não o devia ter matado". Mexeu na carteira do tal e nesta achou a foto de sua mulher e seus dois filhos... quando viu isso, voltou a chorar... "o que fiz eu, Deus meu! Tirei a vida de um homem indefeso, pai e marido de uma linda família. Preciso pensar em algo para recompensar essa família... preciso mata-los também. Essas crianças precisam encontrar o pai e eu darei a oportunidade. E pensando bem, eles já estão mortos mesmo... são só carcaça pesando a terra...".

Passara seu momento de culpa. Começara a pensar que havia feito o certo. Mas agora, precisava livrar-se do corpo.

[Caro leitor, agora você vai ler como os fato ocorreram, nas palavra de Pleurer - literalmente em suas palavras(risos)]

"Preciso me livrar desse corpo. Logo vai começar a feder. Os bichos começarão a comer sua carne podre e sanguinolenta. Por enquanto, sua face esta apenas um pouco roxo esverdeado, suas pálpebras amareladas. Boca aberta. A pele áspera e fria; fria como o gelo. Seus membros, duros como pedra. Seus três orifícios na cabeça, ocasionados pela bala, escorriam sangue sem cessar. Vou colocar uma rolha, para estancar o sangramento. Pronto! Mas como tirar ele daqui? Já sei!".

Pleurer pegou uma faca afiada e começou a cortar pedaços do morto. Começou pelos dedos. Foi cortando falange por falange, ate chegar ao carpo. Com um machado, quebrou-lhe o cúbito e o radio, depois o úmero, partindo em quatro pedaços. O omoplata esmagou com uma marreta. "Pronto! Os braços já foram" Decapitou-lhe a cabeça e tirou seu escalpo. O crânio esmagou novamente com a marreta e arrancou seus olhos. Com o machado, deu um golpe em seu esterno, partindo o em dois pedaços, depois dividiu em quatro, e assim ate dividir em quase quinze pedaços. "Isso! Agora só me resta as pernas". Com uma faca de cozinha, tirou bifinhos de suas grossas coxas e guardou para dar para seu amigo gato, que vem todas as noite de sexta e sábado, na janelinha ouvir e conversar com Pleurer, - só podia vir esses dias, pois era um psicólogo muito ocupado o resto da semana. [Bom, continuando o massacre...] Pleurer estraçalhou-lhe o fêmur, arrancou-lhe as rotulas, quebrou a fíbula e a tíbia. Esmagou o tarso e o metatarso, depois foi lhe arrancando as falanges dos dedos dos pés.

Caro leitor, agora continua a narração de Pleurer...

"Pronto! Agora é só ensacar e... espera ai, onde vou jogar os restos dele? Preciso pensar...Já sei! Vou abrir um buraco na parede e colocar ali os pedaços e depois, coloco cimento e pronto!".

E foi isso que ele fez. O 'sepultou' na parede de seu apartamento. E Para mostrar que era um bom sujeito, Pleurer fez uma oração, colocou Cat Stevens, tomou mais de meia garrafa de whisky e fumou quase dois maços de cigarro, tudo em homenagens póstumas.

Em mais ou menos um mês depois, na parede de seu apartamento, onde havia 'sepultado' o sujeito, começara a escorrer um óleo, amarelado, era o óleo que estava saindo do corpo do transeunte. Pleurer ficou com nojo e decidiu arrancar aquilo que estava em sua parede. [que má idéia, não? Eca!]... Mas foi isso mesmo que ele fez. O ar ficou tão fétido, que a vizinhança toda reuniu-se na porta de seu apartamento. E foi quando descobriram que era um corpo esquartejado que lá havia.

Pleurer recebeu voz de prisão. Mas ele não agüentou a idéia de ser preso e deu um tiro na própria cabeça!

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 22/11/2008
Reeditado em 01/12/2008
Código do texto: T1298286