Para sempre

Pra sempre

Paulo havia parado de contar a quanto tempo Lúcia não estava lá.No começo a louça sabia, o cachorro sabia, tudo em sua vida sabia que a partida dela era recente; estava tudo por fazer nada era mais tão importante e urgente; a urgência foi embora com ela.Só poderia ser assim Lúcia era terrivelmente egoísta e satisfazer o egoísmo dela era uma prioridade, era viciante, e a relação deles era uma relação de dependência ,dependência feliz.Paulo tinha perdida a conta de quantas vezes a vontade de Lúcia tinha sido mais importante que a sua, de quantas vezes ele tinha sido colocado não em segundo mais em terceiro ou quarto plano.Se isso era importante, nem um pouco, a cara de felicidade de Lúcia compensava qualquer comentário perverso de sua mãe ou seus amigos.

Ela era insaciavelmente feliz com aquela situação e ele era um viciado nela, Lúcia era a morfina pros dias difíceis e a maconha dos dias de festa.Era a proprietária, a dona de tudo e sabia sem ao menos ter seu nome nas coisas.

Depois que Lúcia se foi a ausência dela passou a ser companhia constante, os amigos e familiares cansaram de dizer frases feitas para Paulo se recuperar, por que mesmo sem ninguém falar sabiam que ele não queria melhorar.Mesmo depois da fase da casa suja, do Wando no rádio e do choro soluçado Paulo não melhorava.Ele se recusava a esquece-la.Lúcia estava mais presente ainda, quase como um fantasma.Ela estava no dialogo com os amigos quando o corpo dele estava presente mais a mente não.Ela estava quando ele começou a namorar, nas constantes comparações no término da relação que não o afetou mais que uma dor de barriga.

Era fácil ver Lúcia nos dia de calor, eram os seus preferidos, era fácil vê-la nas novelas que ela insistia em assistir e depois chorar como se fosse verdade.Com o tempo Paulo esqueceu que ela tinha morrido, esqueceu até que ela era ausente e permitiu que o fantasma dela se instalasse confortavelmente em sua vida.As vezes ele se lembrava, mas eram raros esses momentos.Ele viveu a vida agora viciado numa lembrança que era melhor e mais perigosa que a ausência pois era perfeita.

Kátia Moraes
Enviado por Kátia Moraes em 18/11/2008
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