O Mestre e o Discípulo

- Falo sobre as belezas do mundo; as flores perfumadas e encantadoras, a noite estrelada, a lua cheia... Dissertava o mestre ao seu único discípulo, a quem vinha se dedicando a transmitir suas experiências e seus conhecimentos.

- Mestre... Sei que te acompanho já há algum tempo, mas ouvi falar...

- Ouviu falar o quê, Siríaco?

- Que a felicidade se encontra nas regiões do alto da montanha.

- Por que a felicidade estaria no alto da montanha?

- Não sei, mas preciso saber. Eu quero ser feliz. Preciso ir até lá.

- Você não é feliz aqui?

- Não sei... Preciso descobrir... Partirei amanhã cedo.

- Não posso proibi-lo de ser feliz. Todos merecem a felicidade. Falou o mestre, olhando no fundo dos olhos do discípulo.

Siríaco se levantou, fez o ritual comum de despedida para dormir e seguiu para o quarto. O mestre ficou lá, na mesma posição. Meditando tranquilamente, talvez, tentando entender as razões e as dúvidas do discípulo.

Na manhã do dia seguinte, Siríaco levantou-se, arrumou seus poucos pertences em uma mochila e saiu a caminho do alto da montanha. Quando se distanciava da porta, ouviu alguém chamando:

-Siríaco!... Siríaco!... Espere!

Olhou para trás e lá vinha o mestre, também com uma mochila.

- Mestre! Surpreendeu-se.

- Vou com você.

- Mas, pensei que o senhor fosse feliz aqui.

- Sim sou, mas respirar o ar da montanha certamente me fará muito bem.

Ambos seguiram pelo caminho e após algumas horas andando, eis que o mestre avistou uma árvore frutífera:

- Espere um momento. Dizendo isso, se dirigiu a ela cheio de energia, procurou um galho de madeira e erguendo-o procurou cutucar os galhos para derrubar os frutos maduros, com os quais se banqueteou e ofertou ao amigo, o qual permanecia quase estático observando as atitudes do mestre.

- Sente-se Siríaco. Devemos meditar e agradecer à árvore pelos frutos que nos deu.

Siríaco sentou-se e participou da meditação junto ao mestre. Ali ficaram por alguns minutos, até que o mestre se levantou:

- Agora podemos continuar.

Caminharam mais algum tempo pela estrada que levava à montanha. Já passava de duas horas, quando avistaram um lago de águas límpidas. O mestre arrancou a mochila e as roupas.

- O que está fazendo mestre?

- Não podemos desperdiçar uma maravilha dessas. Vamos! Rápido!

O mestre saiu correndo e mergulhou para as profundezas do lago, prazerosamente. Logo retornava à superfície novamente.

- Venha! Entre logo Siríaco! Gritou o mestre incentivando o discípulo a dividir com ele aqueles momentos.

Apesar de indeciso e envergonhado, Siríaco despiu-se e entrou no lago andando e conforme entrava começou a sentir-se mais à vontade e mergulhou também. Logo, estavam ambos nadando nus, boiando e se deliciando no lago. Após se refrescarem bastante do calor, saíram andando do lago, esperaram um pouco ao sol para que seus corpos se secassem. Então, vestiram-se.

- Sente-se Siríaco. Agradeçamos ao lago pela água refrescante e ao sol, pois se não houvesse o sol para nos aquecer, não haveria por que nos refrescarmos.

Ambos meditaram novamente em agradecimento. Logo o mestre levantou-se. Foi até o lago, enfiou a mão e saiu com ela cheia de água.

- O que vê em minha mão Siríaco?

- Vejo água mestre.

- Somente água?

- Sim. Por quê? Há mais alguma coisa?

- Quer saber o que vejo?

- Sim.

- Eu vejo mais do que a água. Eu vejo a vida... Eu vejo um mundo de energias... Eu vejo um verdadeiro milagre da natureza... Eu vejo Deus... Eu vejo nela, parte de mim mesmo.

O jovem olhou nos olhos do mestre perturbado nos próprios pensamentos. Tentando entender a mensagem recebida. O mestre olhou bem para ele e foi enfático:

- Agora podemos continuar. Saíram novamente em direção ao alto da montanha. Pouco mais de três horas da tarde, ambos vêem uma linda árvore com uma grande copa a produzir refrescante sombra. O mestre se dirige à sombra e o discípulo o acompanha pensativo:

- Mestre... Deste jeito nunca chegaremos ao alto da montanha.

- Siríaco. Estamos cansados e descansarmos um pouco à sombra desta árvore não nos atrasará.

Ambos se sentaram, recostaram-se no tronco da árvore e ali dormiram. Quando acordaram já eram mais de quatro horas da tarde. Ambos se levantaram e o mestre reverenciou a árvore por ter lhes dado sombra e o discípulo o acompanhou. Então Siríaco olhou para o alto e percebeu o tempo escuro e fechado para chuva, a qual aparentava chegar rapidamente.

- Mestre. É melhor continuarmos aqui para sofrermos menos com a chuva.

- Não se preocupe Siríaco, é apenas chuva de verão.

Caminharam pouco mais de um quilometro e a chuva caiu. O mestre levantou as mãos para o céu e deixou a chuva percorrer todo o corpo dele.

- Sinta Siríaco! Sinta a chuva.

Siríaco fez o mesmo e ali ficaram por um bom tempo até a chuva enfraquecer. O semblante de Siríaco transparecia um novo homem. O mestre olhou para ele.

- É melhor continuarmos, porque senão chegaremos tarde.

- Não mestre... Podemos voltar.

- Você não queria conhecer o alto da montanha?

- Acho que na verdade, já descobri o alto da montanha.

Ambos mudaram de direção e voltaram para o lugar de onde haviam saído; o discípulo feliz por ter encontrado a resposta esperada e o mestre por ter alcançado enfim seu objetivo.

Aguarde "A Marca" suspense em três capítulos, onde o perigo de morte está sempre presente.