Intuição masculina (um conto frustrante)

Morria de medo de avião, se apavorava sempre que precisava voar. Mas foi obrigado a se acostumar com a idéia de ter de entrar num avião quase que semanalmente, desde que havia conseguido aquela tão sonhada colocação em uma conceituada multinacional. Suas fobias insanas não podiam interferir nos negócios - time is money.

Mas naquele dia algo estava diferente, veio um pressentimento, uma forte intuição de que alguma coisa de grandes proporções estava na iminência de acontecer. Precisava estar no Rio pois logo pela manhã teria uma importante reunião. Por alguns instantes ficou paralisado em frente ao portão de embarque.

Em um curto momento de indecisão colocou em duelo sua breve porém bem sucedida carreira versus aquela intuição de que tudo poderia mudar ao entregar o bilhete e embarcar. Ficou ali, pensando, por um tempo...

Andando com seus quase 1,90m pelo corredor apertado da aeronave, André se sentia dentro de um aparelho de ressonância magnética. Seguiu em direção a seu lugar, acomodou a bagagem na parte superior do assento e sentou-se. Levou algum tempo até perceber que depois de muitos anos estava novamente ao lado dela.

- Ana!?

- André!!! Há quanto tempo.

Trocaram sorrisos amarelados, e após algum tempo de silêncio constrangedor se arriscaram a trocar algumas palavras.

- De férias no Brasil?

Sua expressão mudou, ficou séria, abaixou a cabeça.

- Não. Voltei.

- E o Hans? Veio com você?

- Não. Não existe mais Hans. Acabou tudo, minha vida agora voltou a ser aqui, no Brasil...

E falaram sobre os caminhos que cada vida seguiu, os erros, os acertos e concordaram que juntos tinham vivido dias muito felizes. Mas a vida os separou, cada um seguiu seu destino, fizeram as opções que seriam mais convenientes a cada um, priorizaram as carreiras profissionais e se separaram. O tempo e a distância se encarregaram de abrandar a saudade e por consequência disso vieram novos planos e novos amores. Mas agora a mesma vida que os havia separado aprontava mais uma das suas e os colocavam ali novamente, lado a lado.

E a partir daquele inesperado reencontro viriam a se encontrar outras vezes. Saíram, riram, choraram e perceberam que um não vive sem o outro. Casaram-se, tiveram filhos e viveram felizes para sempre - bem, teriam vivido felizes para sempre - Tudo teria sido perfeito se André, naquele momento de indecisão em frente ao portão de embarque, tivesse entendido corretamente o que significava aquele pressentimento.

Naquele dia a emoção venceu a razão, o medo que aquela sensação pudesse ser um prenúncio da morte fez com que André evitasse voar de avião e tomasse um ônibus para o Rio de Janeiro.

Sua intuição o havia enganado...os homens não sabem muito bem como lidar com ela.