A SAÚDE DO COVEIRO
A SAÚDE DO COVEIRO
A profissão de coveiro sempre causou arrepios nas pessoas e por isso os coveiros são reconhecidos como agourentos e figuras tristes, mas o coveiro da Vila de São João era a negação dessas características melancólicas e deprimentes, porque Seu Lazaro era um homem alto, forte e otimista que nada tinha a ver com coisas negativas.
Os profissionais da área de morte em sua maioria são magros, pálidos e de pouca ou nenhuma conversa, mas Seu Lazaro era quase gordo, de faces rosadas e tinha uma conversa muito agradável apesar de apreciar uma boa historia de terror; convivendo diariamente com a parte sombria da vida ele mantinha sua invejável alegria.
Quando assumiu sua função de coveiro, Seu Lazaro encontrou um ambiente triste, sujo e feio, mas em pouco tempo transformou aquele lugar horroroso em um verdadeiro jardim , plantou flores em todas as sepulturas e lindas trepadeiras em volta dos muros; mantinha tudo muito limpo e bem cuidado, nem parecia um cemitério.
Além das muitas flores Seu Lazaro plantou também frutas, nos cantos dos muros ele plantou mangueiras e nos lugares mais afastados ele jogou sementes de melancia; o povo achou estranha aquela plantação de frutas em um cemitério, mas ninguém disse nada e com o passar do tempo as flores de melancia apareceram com fartura.
Após a flores vieram as frutas, enormes e lindas melancias que os moradores da vila olhavam com nojo, porque o adubo daquela terra era discutível e todos pensavam que ninguém teria coragem de come-las, mas as frutas amadureciam e sumiam do campo santo e ai começaram os comentários sobre o desagradável assunto.
Perguntaram ao coveiro sobre quem estava colhendo aquelas frutas e ele respondeu que ninguém e afirmou que
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elas eram só enfeite porque o povo tinha medo daquelas melancias; afinal o assunto foi esquecido e ele continuou a plantar suas lindas melancias, mas na verdade ele consumia toda a suculenta produção daquelas terras.
De repente o saudável coveiro passou a andar com passos trôpegos e sempre com as mãos sobre o estomago, parou de contar seus causos e rir não ria mais; se alguém perguntava se ele estava doente, ele respondia que estava bem, mas bem ele não podia estar e os meses passaram e Seu Lazaro foi definhando e morreu sem saber de que.
O assustadiço povo da vila começou a comentar que ele morreu por culpa das melancias do cemitério e tanto falaram que o que era uma hipótese se tornou realidade para eles; mas pela aparência e sintomas o coveiro foi o primeiro caso de câncer da região, mas é melhor acreditar na culpa das saborosas e assustadoras frutas do cemitério da Vila de São João; e vence o sobrenatural como sempre.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA