Os corações não aprendem a dizer adeus
As mãos desenham no ar úmido da chuva, o desenho das histórias sendo encerradas. Os corações pediam piedade, queriam se sentir mais um pouco, quentes e juntos. Os olhos também se manifestavam, queriam se encarar da forma mais encantadora possível. Não acreditavam que se despedir de quem se ama era tão complicado. E enquanto acenavam, as pernas também se manifestaram. Era quase impossível permanecer sobre elas naquele instante. O corpo respondia à altura do momento: o coração desfalecia, os olhos não acreditavam em si e as pernas não agüentavam a emoção. Mal podiam usar as palavras para dizer um: “boa sorte” ou “Deus te acompanhe”. Era demais para um coração que soube amar, mas que desconhecia a linguagem da despedida. A chuva teimava em se mostrar presente e os pássaros não estavam por perto para com seu canto alegrar aquele momento.
Todos os apaixonados, poetas e amantes tentam explicar a dor da despedida, mas o enigma se esforça em deixar apenas curiosos. Não vale dizer que são mistérios divinos ou que a graça toda é que é indecifrável, vale-nos aceitar e continuar tentando entender.
O solo para Luis naquele momento parecia afundar, o céu se tornava mais escuro e nítido, as estrelas pareciam estar presentes, mas o amor os calava. Helena não fazia questão de tanta tristeza para um momento tão solene, mas não conseguia disfarçar o que estava sentindo. As mãos suavam enquanto ela tentava secar na discreta blusa cor de azul.
Nenhum dos dois conseguia entender o porquê daquele momento, o motivo de estarem ali. Entendiam, porém como força divina, superior, incontestável. Helena não resistiu e plantou-se em lágrimas, e Luis atordoado não sabia se lhe era permitido tocá-la e secar suas lágrimas para também cair em pranto. Esperavam o tempo, senhor dos destinos, encarregar-se do restante. Queriam mostra-se fortes em um cenário que também não entendiam.
Luis sai de si por um momento e, os olhares de forma acelerada, para não perder nem um pouco dos últimos segundos de amor de suas vidas, ficam atordoados. O coração dispara e roga clemência mais uma vez, num sincronismo com o suor mais acentuado nas mãos neste momento. Quem passa pelo local torna-se indiferente ao ambiente, jamais entenderia o que se passa naquelas mentes.
As lágrimas continuavam inconscientemente rolando, e num ar de absoluta tristeza Luis ajoelha-se, levanta as mãos para os céus e proclama breves palavras.
“....se um dia não capaz fui de sonhar
Meu ser se encarregou de apenas agir
E aprendi que
Quando fui fraco,
Foi errando que tentei ser forte
E se por um dia meu amor não foi o bastante
Não sou digno de continuar vivendo
Pois vivi por esse amor que hoje me despede
Minhas lágrimas rolam
E o coração se comprime de tanta dor.
Quero apenas que o mundo continue seu ciclo
E nas labaredas de minha dor despeço-me dele....”
Helena, por um momento também saiu de si e ajoelhou-se a frente a ele. E mediante ao aumento da chuva, os cabelos molhados davam mais forma ao teu tosto delicado, e sentindo imensa sinceridade nos sentimentos de Luis, também desviou teu olhar aos céus. Sobrepôs uma mão sobre a outra por cima de seu peito, e sentiu a mão de Luis tocar seus ombros parecendo um desconhecido. E proferiu também algumas palavras.
“....Se fecharmos os olhos
Sabemos que tocamos em uma rosa quando sentimos os espinhos
E sabemos que o amor está em nós
Quando não apenas nos pertencemos
Nossa vida se torna impassível
E muitas vezes não damos conta de tanto amor.
Não compreendo o que sinto neste momento
E creio que não seja para eu realmente entender.
Aprendi nesse instante
Que é o Amor que se esconde por trás da palavra fé
E que quando o amor máximo é correspondido
Meros humanos não podem suportá-lo....”
Luis da um leve sorriso, segurando agora as mãos dela. Helena diz: “Encontramos o amor máximo que sempre buscamos” – E Luis concorda com a cabeça, parecendo convicto e muito mais seguro. Talvez eles tenham saído desse mundo, e conhecido algo que nenhum outro amor tenha tido o prazer, ou se existiu não fora relatado.
Eles se abraçam forte, e são tomados. Compreenderam que aquele era o fim. As pessoas que passam ficam paradas olhando aqueles dois corpos estendidos no chão abraçados.