Manifestações da Menina [fragmentos da Poeta]

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"Seus olhos... Ainda assim enxerga algo?" Meus olhos? O que há com eles? Vejo tudo tão claro quanto o dia. Enxergo as aspas desse derradeiro dia, o último de um ciclo. Observo as manifestações... Manifestações... Onde estão? Nunca as observam! Veja. Olhe como são funebres, macabros os passos desses depositários dessa morte lenta e fria.

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"Seus olhos... Como consegue ainda enxergar e dizer?" Mas, o que há? Vejo o raiar dos dias. As nuvens. O despertar das catacumbas e seus mortos sairem para aquilo que parece ser a última... Última saída. Não vêem a luz. Fazem as curvas. Decorado os passos. Passos largos na chuva. Trombadas... Olhos atentos ao nada...

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"Ainda não vê! Não consegue ver! Olha, apenas. E somente aquilo que lhe interessa, vê... Tens certeza que vês? Olhe novamente."

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"Eis o espírito do mundo! Papelões e chuva fria. Vento gélido marcando o rosto coberto de misto de angústia e agonia, rudeza e alegria! Eis o espírito do mundo: noites frias e a promessa, quase nunca cumprida, de uma nova angústia... Não vês?"

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As luzes da agonia. Cegam os olhos para o novo e carcomido. Você não vê. Eis o espírito do povo: autômatos que se esquivam! Eis o que não vê! A superfície é apenas aparência de profundidade! A verdade... Bem, eis o que não quer ver. Angústia e agonia tapam os olhos que mal percebem as manifestações de... Ah! Qualquer coisa! Menos vida!

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"Não vês que sou o Espírito do Mundo? Como ousas dizer que não vejo enquanto, o que não enxerga, é a real profundidade daquilo que se mostra na superfície! Eis a aparência que vêm à tona. Ainda não vê! Eu sou o espírito do mundo! E me entenda como a expressão do espírito do povo! Sou a superfície mais profunda que seus olhos ofuscos vêem agora!"

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Parece que o grande Espírito do mundo foi tomado de uma colera egocêntrica! "Como ousas?!" Não vês. É apenas um dos poucos que ainda vivem. Mas, morre no instante seguinte. Falece na lamúria dessa escuridão enlouquecida! O mundo não tem mais vida. A angústia, tua angústia agonizante sofre com o passos nessa via! Via de mão única! Via que ofusca, esconde e perfura os resquícios de vida. Vida que não se vive. Vidros que não refletem. Passos firmes na trilha do círculo. Eis o espírito do povo: funebres passos carcomidos e degradados no meio da escuridão. A nobreza toma conta das vias de passagem. A caverna se faz viva. E é a única coisa que possui essa vicerante vida.

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"Eis o Espírito do Mundo: corpos dançantes sem música. Morte que ofusca. Passos que andam em círculos. Funestos e Funebres. Voltam às catacumbas. Viceras secas e... Balbúcias! Mumias que andam pelas ruas da República. O Relento que me apego, mesmo sem música. Não há mais música. Talvez nunca tenha havido! Triste fim. Movimento circular contínuo. Belo fim! Ainda vivemos! Nossos olhos não enxergam. E eis a nossa grande virtude!"

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