FAROESTE - Cap - 7

Sob pseudönimo de J.G. Hunter.

Capítulo Sétimo

“O segundo cofre”

— Chambord esta ficando louco — murmurou o doutor à senhorita MacGreen, que saboreava um café e olhava pela janela a noite lá fora.

— Dr. Smith, qual será nosso próximo passo?

— Chambord! Não é isto que você quer?

— Sim!

— O que pretende fazer com ele?

— Sei que todos devem pagar o que devem. Segundo notícias que a mim chegaram, envenenaram a água que servia a algumas propriedades e o rebanho de alguns morreram. Então, bem, ninguém teve como pagar e perderam suas terras... sempre um jogo sujo. Eu vou depená-lo — disse MacGreen.

— Bem, eu não gostaria de viver aqui pelo resto de minha vida. Temos que pensar em algo...

— Eu vou dar uma volta pro aí...

*****

Helen MacGreen entrava sorrateiramente à noite na casa do ex-barbeiro. A casa agora estava sem nenhum morador. Vistoriou toda a casa de Timoty Jacob. Sabia que o que procurava estaria fatalmente ali. Depois de algum tempo encontrou o que procurava. Cinqüenta mil dólares bem empacotados. Estes, sim, eram realmente seus!

Não poderia sair com a aquele monte de maços de notas pela rua. Levantou seu vestido e amarrou bem a fita abaixo dos seus joelhos prendendo bem sua roupa íntima. Colocou maço por maço pela cintura deixando-os escorregar por suas pernas espalhando-os em volta do corpo. Suas pernas ficaram um pouco volumosas, mas seu vestido rodado camuflava bem seus dólares.

Mal fechou a porta para sair e deu alguns passos, ouviu a voz de um vulto que saía de por detrás da casa. E uma arma brilhou pela noite. Um estalido de um revólver sendo engatilhado foi ouvido.

— O que faz por aqui, senhorita MacGreen? — indagou Chambord.

Helen MacGreen ficou estática! Não poderia levantar seu vestido e apanhar sua pequena Deringer com dois tiros apenas preso em sua perna.

— Creio que posso fazer a mesma pergunta, senhor Chambord! Costuma fazer negócios a sós pela noite?

— Esta me causando muitos problemas, senhorita...

— É mesmo!

— Eu gostaria que isto tivesse um fim.

— Senão... irá matar-me, como fez com o meu pai e com muitos outros! Acho que já esta na hora do senhor cair na realidade e parar de se fazer de santo perante todos nesta cidade, senão...

— Senão...

— Senão, eu vou convocar todos os rancheiros e dizer a todos o que aconteceu com o meu pai e o que acontece por aí!

— Senhorita, não esta em condições de fazer ponderações nem ameaças, portanto...

— Portanto...

— Acho melhor ouvir o que eu tenho a lhe dizer.

— Não me interessa o que tem a me dizer, senhor Chambord. Eu não vou ficar calada! Não devo mais nada ao senhor, não tenho nada mais a perder, mas... acho que o senhor tem! Portanto — brincou ela, imitando-o —, acho melhor o senhor me ouvir. O xerife esta sabendo de quase tudo!

— Quase tudo...

— Havia na cidade várias frentes de homens desonestos: nosso ex-barbeiro, municiado pelo irmão Simon que trabalhava para o senhor, Timoty Jacob, ele, sutilmente, indagava aos seus clientes sobre suas vidas aos fazer suas barbas quando não havia uma dica de Simon, Jacob dava as dicas a Simon, e, às vezes, o senhor ficava a ver navios como foi no caso do trem... Simon agiu ao modo dele e a revelia do senhor e o ex-barbeiro também estava na jogada. Seu tesoureiro, eu não sei como tentou entrar na jogada e se lascou... isso, se não houver mais nenhum tentáculo do senhor por aí.

— Bem, senhorita, sabe muita coisa para uma donzela na sua idade. Não convém ficar andando por aí imaginando coisas... faz muito mal para sua cabecinha de garota sem juízo. Venha comigo!

— Não! Não vou!

Chambord a agarrou pelos cabelos e a fez acompanhá-lo sob a mira de sua arma até seu coche que estava próximo.

— Ai, seu monstro! — gritou MacGreen sentindo suas nádegas ser espetadas pelos maços de dólares quando foi jogada dentro do coche.

— Para meu rancho! — ordenou Chambord.

— O que pretende fazer comigo, senhor Chambord? Vai fazer o que sempre fez com os outros!

— Não... senhorita! Você irá me vender seu rancho!

— Só se me matar!

— Quanto a isso, não tenha dúvida! Mas somente depois de assinar todos os papéis. Ninguém sabe que esta na cidade, não é mesmo! Segundo o xerife e algumas pessoas a senhorita foi para Dallas.

— Oh, meu Deus! O xerife também esta com o senhor!

— Não! Não esta! Ele é um homem muito crédulo. Não percebe o que acontece à sua volta. É um bom xerife! Ele disse-me isso num momento de distração, talvez, tentando protegê-la.

— Eu não vou vender o meu rancho!

— Vai sim!

— Por que esta tão interessado em meu rancho? — perguntou MacGreen olhando para Chambord, que lhe apontava uma arma durante todo o trajeto.

— Você e seu pai falavam pouco sobre negócios, não é senhorita?

— Às vezes...

— É uma pena! — brincou Chambord.

Helen MacGreen foi puxada para fora do coche e direcionada para dentro da sede do rancho. Chambord retirou algumas folhas do bolso interno de seu paletó e gesticulou a ela:

— Assine isso, senhorita — e novamente apontou para ela sua arma.

— Não! Não vou assinar! De todas as maneiras o senhor irá me matar. Só que, se eu morrer, o doutor Smith ficará com o meu rancho! Não tenho herdeiros! Já deixei tudo pronto com ele caso aconteça alguma coisa comigo — mentiu MacGreen tentando salvar sua vida.

— O doutor Smith!

— Sim! Ele ficará com o meu rancho se algo me acontecer!

— Acho melhor você assinar, senhorita! — disse uma voz ecoando pela sala. Helen MacGreen virou-se com certa dificuldade o rosto pressionado sobre a mesa.

— Surpresa, senhorita! — exclamou o recém-chegado.

— Doutor Smith! — balbuciou MacGreen sem entender mais nada.

— Lembra-se da história que lhe contei sobre os dois irmãos? Você realmente é muito idiota e ingênua... acredita em tudo que lhe contam por aí — disse Smith, vangloriando-se por tê-la trapaceado. — Assine isto e eu lhe garanto que viverá... mas bem longe daqui!

— Seu miserável! — grunhiu MacGreen, com o rosto sobre a mesa, pois Chambord pressionava sua cabeça em cima dos papéis.

— Não lastime! Já nos causou muitos problemas — continuou Smith.

— Então, os dois irmãos... são o senhor e Chambord!

— Exatamente! Só que Simon descobriu e começou a nos chantagear entrando no negócio também... e o tesoureiro do banco começou a colaborar com ele. Bem — dizia Smith andando pela sala —, tivemos outra frente de concorrentes, nosso barbeiro mantinha um banco particular e isso atrapalhava nossos negócios e o banco do Chambord perdia dinheiro, você nos ajudou a eliminá-lo na presença de todos, legitima defesa, ele trapaceava nas cartas. Porém, ainda não encontramos os cinqüenta mil dólares perdidos naquele trem. Eu tinha que ganhar sua confiança e lhe dei a dica. Você limpou o cofre de Chambord naquela noite e me pediu para guardar o dinheiro... Lembra-se? Eu armei para que nosso barbeiro fosse morto na frente de todos.

— Seu ordinário!

— Bem, Chambord foi avisado de tudo e facilitou tudo... pelo menos, recuperamos todo o dinheiro... falta apenas o dinheiro do trem! Você já nos causou muitos prejuízos e problemas e, por isso, queremos o seu rancho como uma indenização — disse o doutor. — Há uma mina de ouro por lá... sabia?

— Então... é por isso! — exclamou MacGreen com o rosto quase esmagado sobre a mesa.

— Sim! Seu pai iria comprar equipamentos para explorá-la! Era seu maior segredo e somente um médico da família e com muito jeito conseguiu tirar dele tal segredo. Eu dizia a ele que não deveria trabalhar tanto... então, ele confidenciou a mim que pretendia mesmo parar, mas somente depois de realizar um sonho.

— Então, o que o senhor disse a Simon antes dele morrer é pura mentira!

— Sim. Percebi que você me seguia e fatalmente estaria ouvindo tudo.

— Desgraçado! — resmungou ela.

— Assine! — gritou Chambord, impaciente. — Você esta em Dallas, querida, não é mesmo! Vendeu seu rancho e foi para Dallas.

Depois de esperar um pouco e percebendo que ela relutava, disse:

— Não quer assinar! Bem... deixe os vaqueiros se divertir com ela um pouco, pelo menos, assim, morrerá sendo amada!

— Tudo bem! Tudo bem! — concordou, rezando para que ninguém a tocasse. Com o dinheiro que tinha escondido em suas roupas poderia recomeçar em algum lugar sua vida... se vivesse para isso, claro.

— Boa menina! — disse Chambord ao vê-la apanhar a pena em cima da mesa mesmo raivosa.

— Coloque-a no coche e a leve para Dallas... para os arredores de Dallas no Texas — ordenou o doutor Smith. — Ninguém na cidade sabe que a senhorita esta por aqui — foi arrastada até ao coche e jogada dentro dele com um empregado do rancho ao seu lado. Depois, Chambord falou em sussurros ao cocheiro:

— Vocês tomem cuidado para que ninguém a veja e, mate-a por lá!

— Acho que nossos problemas acabaram de vez — murmurou Chambord acompanhado pelas costas por seu irmão casa afora.

— De agora em diante, tome mais cuidado — aconselhou o doutor —, ainda temos algumas explicações para dar ao xerife, mas...

— Se ele insistir em não acreditar nós o mataremos! Você pode adoecê-lo quando ele for tratar da úlcera dele.

*****

Helen MacGreen curvou-se um pouco para frente apertando a barriga.

— Esta com algum problema, senhorita? — indagou o homem que a vigiava sempre apontando rumo a ela seu colt.

— Sim!

— Qual é o seu problema!

— Estou precisando fazer uma coisa que ninguém pode fazer por mim... Poderiam parar o coche por um instante!

— Não podemos parar senhorita!

— Bem, sendo assim, farei aqui mesmo! — e agachou-se no meio do coche. — Esta escuro... ninguém verá mesmo.

— Não é maluca para fazer isto aqui — vendo-a remexendo nas roupas ao se agachar.

O homem ao seu lado calou-se! Uma pequena e mortífera arma brilhava na mão dela. Eram apenas dois tiros! Mas estava bem apontada para o seu nariz.

— Dei-me isso! — ordenou MacGreen, recolhendo o revólver dele. — Respire mais alto e morrerá!

Numa fração de segundos que imaginou estar ela menos atenta, ele tentou pegar o rifle ao lado do banco. Dois tiros certeiros atingiram-lhe a cabeça. Ele tombou junto à porta. MacGreen a abriu e o empurrou para fora.

— O que esta acontecendo aí! — gritou o cocheiro parando o coche.

Uma saraivada de balas de um rifle começou a atingi-lo de por debaixo do assento numa seqüência que não lhe deu tempo de sequer reagir e caiu por sobre os cavalos.

MacGreen desceu do coche. Puxou os cavalos para frente. Mesmo no escuro, apanhou o rifle e o revólver do último homem morto, como também, seu cinturão cheio de balas. Arrastou os corpos com certa dificuldade para longe da estrada. Tirou as roupas de um deles e a vestiu. Com a calça de um deles deu um nó nas extremidades das pernas e enfiou nelas todo o seu dinheiro amarrando a cintura da calça com o cinto bem apertado.

Olhou ao derredor. Havia uma pedreira, uma grande árvore, marcou mentalmente o lugar e escondeu debaixo de pedras aquela calça recheada de dólares. Voltou ao coche. Colocou o chapéu de um deles enrolando um pouco seus cabelos por debaixo dele, colocou um dos cinturões e atravessou o outro pelos ombros. Sua pequena e mortífera arma foi recolocada no mesmo lugar junto à coxa. Estava armada até aos dentes. Dois revólveres, dois rifles e sua arma bem escondida na perna. Entrou no coche e voltou ao rancho de Chambord.

*****

— Bem... eu tenho que ir à cidade — disse Chambord ao seu irmão. — Terei que ir a Dallas no primeiro trem amanhã bem cedo.

— Vou ficar por aqui. Estou muito cansado. Amanhã irei para a cidade.

— Tudo bem — concordou Chambord montando em seu cavalo. — Vou dar um jeito de vender aquele banco lá em Dallas para o primeiro idiota que o quiser comprar e seremos rancheiros de agora em diante... e depois de algum tempo exploraremos nossa mina.

— Certo! Temos que dar um tempo para começar a explorá-la.

— Já estou indo! Você esta sozinho aqui. Os rapazes devem demorar a voltar.

— Eu sei. Não há perigo.

— Eu não deixo transparecer muita atividade nesse rancho. Para todos os efeitos, é apenas um lugar de descanso.

— Pode deixar. Eu sei me defender.

Chambord instigou seu cavalo sumindo pela estrada escura. Seu irmão entrou pela casa, abriu uma garrafa de uísque e pelo gargalho tomava goles constantes andando meio sem rumo por todos os lados como uma comemoração.

Sozinho pela casa abriu a porta de um dos cômodos. Acendeu um lampião e clareou bem onde estava. Empurrou uma grande mesa ao centro do cômodo para o lado e enrolou o grosso tapete até a mesa. Depois, levantou uma tampa de um alçapão no centro do cômodo. Lentamente começou a descer a escada. Ao levantar mais um pouco o lampião acima dos olhos para melhor enxergar, soltou um sorriso de alegria.

Havia mais dinheiro à sua volta do que no banco Chambord Bank na cidade de Santa Fé, além de barras de ouro e jóias armazenados em prateleiras por todo o cômodo.

Depois de vistoriar todo o tesouro em derredor e acariciar levemente as barras de ouro, o médico, irmão de Chambord, apanhou o lampião e começou a subir a escada.

A tampa do alçapão estava encostada para trás apoiada na mesa. Assustou-se quando ela caiu em suas costas. Parou. Colocou o lampião no assoalho mais acima e empurrou a tampa para trás. Ela não voltava.

Virou sua cabeça um pouco para trás. Ficou como uma estátua. Não acreditou no que seus olhos viam.

— Se disser uma única palavra nunca mais verá seu ouro, cretino! — disse MacGreen com o rifle engatilhado bem no nariz dele. — Meu rancho não vale tanto assim, seu desgraçado, mas o que tem aqui pagará muito bem o que fizeram ao meu pai e a mim. Quero ver até onde vai o poder de vocês dois, miseráveis! Vou tomar centavo por centavo de vocês dois, seus cretinos. Dê um pio e morrerá! Há mais dinheiro aqui do que no banco de Chambord, não é! Parece que hoje é meu dia de sorte... ganhei um banco de presente.

— Meu Deus! — foi somente o que pôde dizer, pois uma coronhada em sua cabeça o fez rolar de volta pela escada.

Lucas Durand
Enviado por Lucas Durand em 23/03/2006
Reeditado em 13/07/2015
Código do texto: T127131
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