O Pescador e o Mar.
O barco deslizava pelas águas tranqüilas da baía.Era sua primeira viagem e sabia que não seria fácil.Um barco de pesca daquele que acabava de embarcar ficaria de vinte a trinta dias em alto mar ou talvez até mais se a pesca não fosse boa.
Estava com dezesseis anos,seu pai havia sido pescador até pouco tempo,quando então teve um destino trágico,morreu quando o barco onde estava ficou emborcado com a tempestade.Apenas dois dos tripulantes haviam conseguido sobreviver.Sabia do perigo,mas era uma chance de conseguir um dinheiro para ajudar a mãe e seus dois irmãos menores.A viagem duraria um dia e meio em alto mar até onde largariam as redes.
Os primeiros dias foram tranqüilos, tudo estava correndo bem.O mestre, que era responsável pela embarcação estava satisfeito com o resultado que estavam tendo a cada vez que puxavam as redes.
-Se a pescaria continuar assim,vamos ter uma boa viagem rapazes!
Era tudo que ele queria,não via a hora de poder chegar em casa e poder entregar o dinheiro à sua mãe.Naquela noite era seu dia de fazer vigia.A cada dia um dos tripulantes fazia a vigia enquanto os outros dormiam.Sentou-se na proa e ficou beliscando um pacote de salgadinhos que tinha trazido.A noite estava escura como breu,apenas as luzes do barco clareavam as águas do mar.Ao longe avistava alguns raios que iluminavam o céu.Para onde olhava,tudo que via era céu e mar.Naquele dia não tinha tomado banho,cheirava a peixe,às vezes era assim,precisavam economizar a água doce que tinham a bordo.Não sabia ainda quando voltariam,mas ia agüentar firme,não queria que rissem dele por não agüentar a viagem.Todos que estavam na embarcação eram acostumados com a vida do mar e por isso ficavam fazendo os novatos de bobos com suas brincadeiras.Era preciso sempre estar atento ou então virava motivo de chacota dos pescadores.Não sentia raiva deles por isso,sabia que fazia parte da primeira viagem,depois tudo voltava ao normal.Quando percebeu o dia amanhecia e o cozinheiro já estava preparando o café para os tripulantes que aos poucos iam acordando para mais um dia de pescaria.
Chegou o dia de voltar para casa e todos estavam satisfeitos,o porão do barco estava cheio de peixes,o que ia lhes render um bom dinheiro.Jogavam cartas quando ouviram um aviso de alerta no rádio.Ventos fortes eram previstos para aquela noite e todos os barcos de pesca deviam procurar proteção perto da costa.Ele sentiu um certo medo,lembrou-se do pai,mas continuou calado enquanto os outros conversavam e o mestre falava no rádio com outros barcos que estavam próximos.Ao cair da tarde o vento começou a aumentar,mas ainda estavam em alto mar e pela conversa parecia que não chegariam antes da tempestade.o mar já estava agitado e as ondas batiam violentamente na embarcação fazendo com que a água passasse pela proa.Ouvia todos falando ao mesmo tempo,e por fim ficaram reunidos dentro da casaria.O mar estava furioso e o vento piorava tudo.O barco estava pesado demais e com isso as ondas variam o convés parecendo arrancar tudo que tinha pela frente.Não sabia se o barco ia resistir e rezou silenciosamente pedindo proteção.
De repente viu o pior,um barco estava emborcado logo em frente.Ouviu gritos,alguém o empurrava, e de repente sentiu que o pior estava acontecendo.O choque era inevitável,as ondas eram altas e o medo tomou conta de todos.A última pessoa em quem pensou foi sua mãe e então tudo foi rápido demais e sentiu a onda carregá-lo para longe.
Ouviu vozes ao longe e abriu os olhos lentamente,o dia amanhecia e todos conversavam no convés.Levantou-se confuso e se deu conta que estavam chegando no porto e que tudo tinha sido um terrível pesadelo.Agradeceu em silêncio e lembrou-se das palavras do pai: "Devemos ter respeito pelo mar."Agora entendia o quanto aquelas palavras eram verdadeiras e sorriu por tudo ter sido apenas um pesadelo.