Confissões De Um Recém - Nascido II

Cheguei da maternidade. Hoje é o meu primeiro dia de vida. Sou um recém-nascido de parto normal, desejado e sonhado durante nove meses. Minha mãe preparou o meu quarto nos mínimos detalhes: pintou de azul celeste e com muito carinho o enfeitou com figuras de Walt Disney, pois já sabia que eu era um menino quando fez a ultra-sonografia.

Nem bem me acomodei no berço, minha avó me pegou no colo e tentou identificar algum traço familiar no meu rostinho, ainda indefinido.

Agora em sei o que é ser o centro das atenções. Basta eu ameaçar chorar, para eu me sentir como um reizinho, com vários súditos ao meu redor, todos tentando adivinhar o que eu sinto. Começam a me “futucar” para ver se estou molhado ou se fiz cocô.

Quase sempre pensam que eu estou com fome, dor de ouvido ou com a famigerada cólica do recém-nascido. Felizmente com o tempo, quando diminuir um pouco a ansiedade da minha mãe, ela irá perceber que na maioria das vezes, eu quero apenas o aconchego do seu corpo, o calor da sua pele ou ouvir as batidas do seu coração, para me acalmar e adormecer.

Como não tenho ainda independência motora, meu mundo é o corpo da minha mãe. Algumas vezes meus olhos encontram os dela e assim, através deste espelho, entendo um pouco mais a vida. Sinto o que é alegria, tristeza, medo, ansiedade, mas principalmente, o que é esperança. Na verdade, adoro o seio da minha mãe. Aquelas duas bolinhas redondas, fofinhas e com cheiro de amor, são no momento, a razão da minha vida.

Ah! Gostaria de permanecer assim para sempre, afinal de contas, "não sei por que a gente cresce, se não sai da gente essas lembranças".

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 23/04/2005
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