8º andar

O clarão da lua incidia sobre a silhueta de duas pessoas, no terraço do 8º andar daquele prédio em estilo remanescente. Poderia ser um casal. Havia movimentos bruscos em dado momento. Pareciam estar se agredindo. Em dado momento tudo se acalmava. Logo depois recomeçava. De repente algo cai daquele local indo se estrebuchar lá embaixo na grama seca. A pessoa que estava naquele andar, no terraço põe as mãos na cabeça como que demonstrando apreensão, medo, qualquer coisa que o valha. Anda de um lado pra outro. De repente sobe no parapeito, abre os braços, grita algo, aguarda alguns segundos, como se estivesse fazendo uma prece, ou pedindo perdão por algo e despenca prédio abaixo, num tombo seco, quase perto do outro corpo recém caído. Dois corpos, um casal, sangue espalhado por todos os lados.

- Sérgio, você mentiu pra mim... você me enganou, achei que me amava...

- Mas eu te amo, Lídia, eu te amo de verdade.

- Não parece (colocando as mãos no rosto) e eu que confiei tanto em você... como posso me casar com alguém que me engana...

- Se você me der uma oportunidade eu te explico... mas você tem que me escutar...

- Escutar coisa nenhuma, Sérgio... o que você fez eu nunca vou perdoar.

- Ela é só uma amiga, nada mais. Pode perguntar pros meus amigos, eu juro... é você que eu amo, Lídia, só você.

- Não... depois dessa eu nunca mais vou acreditar em você... se soubesse como eu te amo... como eu te amava!

- a gente tem que conversar, eu também te amo... te amo muito – aproxima-se dela, ela o detém.

- Eu tinha tantos planos pra gente... comprar uma casinha legal... ter filhos... tanta coisa!

- Mas a gente ainda pode pensar nesses planos...

- Não! Acabou! Nunca mais quero saber de você... a desilusão foi grande demais.

- Olhe – tenta puxá-la pra perto – acredite em mim – ela tenta se desvencilhar, se aproximando do parapeito no terraço, quando percebe que está se desequilibrando. Grita, mas o corpo já está girando no ar, sem encontrar apoio, de encontro à terra. Sérgio ainda tenta agarrá-la, mas é tarde demais. Foi muito rápido. Desnorteado, não sabe o que fazer. O seu grande amor se foi como num passe de mágica. Fatalidade? Destino? Põe a mãos no rosto, esfrega os cabelos, num desespero tal que a única saída, pensou, seria ir junto dela, fazer parte da vida dela em outra dimensão – se é que existe outra dimensão – subiu no parapeito abriu os braços e gritou o nome de Lídia e deixou-se levar pelo vento... e o vento o levou até ela.

caçapava, 27/10/08

Ajosan
Enviado por Ajosan em 27/10/2008
Código do texto: T1250829
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