minha eterna companheira

“Sabe, depois de tantos anos juntos, quase 20, eu não sei como chegar a você para podermos conversar, pois, nunca tivemos um diálogo franco, nem ao menos uma conversa, pequena que fosse, ao longo de nossas vidas. Eu sempre quis conversar com você a respeito de tudo o que se passa na nossa vida, sobre nossos filhos, enfim, sobre muitas coisas, mas infelizmente não conseguimos esse diálogo. Eu... eu sei que parte da culpa é minha também!... E, sabe, o diálogo é muito importante para qualquer pessoa se entender. Eu me culpo um pouco por isso. Ainda mais um casal como nós, que como disse, já caminhamos uma longa jornada. Os filhos já adolescentes, quase casando. A nossa vida nunca foi um livro aberto. Sabe, acho que mal conheço você. Acho que você também mal me conhece. Engraçado, no namoro tudo é lindo, maravilhoso, tudo que um gosta o outro também gosta! Aí vem o casamento, alguma coisa parece mudar. Cada um pensa em si próprio. Não dividimos os mesmos sentimentos, as mesmas angústias. Sabe, nem sabia como proceder quando você ia ao médico qualquer um que fosse. Não sabia o que perguntar, temendo alguma resposta mal-interpretada. E, agora que você está neste leito de hospital, tão doente, com estes... desculpe, não consigo conter as lágrimas, elas teimam em cair... com estes tubos por todos os poros, e precisando da minha ajuda, tenho medo de me aproximar muito de você, querer te agradar, e você achar que estou fazendo isso só por piedade. Mas não pense isso, de forma alguma. Não sei se você sabe, minha querida... olha!! faz tanto tempo que não a chamo assim... Sabe, foi diagnosticado um câncer no intestino. O médico não dá esperança. Aliás... me desculpe de novo... minhas lágrimas!! para aliviar ele diz que há um fio de esperança. Mas sei que esse fio é muito tênue e remoto. Ah, como eu queria que o tempo voltasse, parece que só agora percebo a falta que você me faz!! Perdoe-me de novo... são minhas lágrimas... Queria ter dado mais atenção a você, mesmo, sei lá, se você não retribuísse! Talvez eu estivesse menos triste agora, porque eu teria feito a minha parte, que é ser companheiro, amigo, tudo!! Agora... agora... posso abraçá-la?? Sinto que você está indo embora!... me dá um nó na garganta! Se eu pudesse, juro, daria minha vida em troca da sua!! Queria gritar... gritar que te amo, como se a quantidade destes gritos voltasse no tempo e marcasse cada dia nosso passados juntos. Mas a única coisa que sei fazer agora, na minha mais profunda angústia é orar. Orar por mim, pelos nossos filhos e, principalmente por você, minha eterna companheira”.

caçapava, 24/10/08

Ajosan
Enviado por Ajosan em 24/10/2008
Código do texto: T1245111
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