O Côco e o Nome Dela
- Qual o teu nome? - Perguntei.
- Por que tu queres saber?
Meu nome é Américo. Me apaixonei por uma mulher, ela é o que sempre procurei. Tomamos chá juntos, caminhamos ao pôr-do-sol, inventamos brincadeiras, rimos, choramos ao ver um lindo filme. Talvez não é exatamente isso, nós não nos conhecemos - Ela não sabe que sonho ser feliz, todas as noites ao lado dela.
Eu sonho, literalmente. Eu imagino-a, literalmente.
Quando ela deixa a cafeteria, roubo a xícara que seus lábios tocaram, com o seu batom lilás. O perfume, parece um delírio e me tira da vida por dez valiosos segundos. Às vezes, quando posso, me visto de garçon e digo "Senhorita, preocupa-se demais. É por conta da casa". E pago por ela.
Um dia, escalei um alto coqueiro até conseguir o melhor côco. Os demais tinham pequenos defeitos e descartei - eu queria vê-la desfrutando do côco que a merecesse. Ofereci a fruta, com canudos listrados, aonde ela se encontrava, em perfeito júbilo, na praia. "Obrigada, mas não aceito". Assim foram as tentativas: um sanduíche medido à régua, um suco coado 23 vezes, um coquetel de 35 pratas, um biscoito canadense servido com mousse de maracujá, melão tailandês lustrado... Nada foi aceito.
Aprendi a velejar, aprendi a jogar futebol, aprendia surfar, a nadar, a cavalgar... Ela nem sequer me notou.
Até que um dia resolvi perguntar o nome dela, como na frase inicial. Já sabes a resposta, não?
Ela me conhecia, porém me evitava. Sempre que me via passando, quase toda a hora, desviava a atenção para algo qualquer.
O tempo passou tanto, passaram tantas tentativas de conhecê-la, tantas negações que acabei esquecendo-a aos poucos.
Um certo dia, o cheiro de madeira queimada me acordou. A casa situada na rua ao lado, estava em incêncio grave. Desci, correndo como uma lebre, e avistei a fumaça negra, logo então pulando o muro da vítima casa e entrando pelos fundos. Lá estava, em meio de toda a destruição causada pelo fogo, um menino. Saí da casa, com o menino nos braços, quase sem oxigênio, notando a multidão e logo em seguida, urrando e parabenizando.
"É o meu sobrinho!" gritou a moça lá de trás. Era ela, o amor da minha vida. Me beijou como se fosse um herói.
"Eu sempre te amei", sussurrou em meu ouvido. A multidão me abraçava e me vangloriava. Depois daquilo, definitivamente não pensei mais nela, pois não havia sentido nada durante o nosso beijo. Pareceu muito falso e eu não queria uma paixão falsa.
Que estranho, durante tantos anos, estive ajoelhado em sua frente e agora, descobri que aquilo tudo morreu.
E de manhã, quando acordei, encontrei na frente da minha porta, um côco com canudinhos listrados e escrito, arranhado, Isabelle.
Ah, o que importa se for falso? Me apaixonei novamente naquele momento.