VÍRGULA 5 A : A FESTANÇA E O TOMBO DA GRÁVIDA (COR)

(CORRIGIDO)

A FESTANÇA E P TOMBO DA GRÁVIDA

Agitava-se a vida social do povoado com a aproximação de mais um acontecimento social, principalmente a gurizada imaginando em se esbaldar até enfarar nas guloseimas requintadas que adornavam a mesa, nessas ocasiões. Como não podia deixar de ser o convite vocal chegou na casa da dona Das Dores, transmitido pela aniversariante, Maria Ordalia, segurando firme na mão de sua tia cuja idade parelhava com a da rebenta mais velha da casa dos de Lima, concluindo o esperado convite com sua voz de taquara rachada:

-...E a mamãe mandou falar para a senhora levar todas as filhas às 5:00 horas da tarde de sábado...

Pronto mais uma casa, participara do reboliço na preparação a fim de participar de mais um evento tão comuns naquelas bandas, o corre corre começa em escolher os modelas da petizada, agitam-se as vidas das costureiras, não, mas de que uma meia dúzia, o bastante na árdua tarefa de vestir a todos. Ficam cheias as lojas que vendem tecidos, onde cada um escolhe o melhor pano para o seu modelo, não esquecendo é claro dos botões, enfeites, aviamentos, linhas, elásticos, etc., o escambal. Chegando em casa das compras, após ter deixado na costureira tudo encomendado, chama a Gema e manda-a levar ao serviço de alto falantes, um bilhete autorizando-o a transmissão de uma música especial no dia da festa, onde especifica categórica, nem mais nem menos, às 9 ;00 horas da manhã.

Amanhece dia chuvoso o sábado esperado, a expectativa das crianças era grande. Depois de servir o almoço regado com angu e polenta, tendo de fundo um frango caipira com pequi, começam os preparativos, de uma a uma tomado um delicioso banho morno, na grande bacia de alumínio, onde o cheiro inconfundível do sabonete Eucalol, esparrama-se pelos ares, beirando o horário indicado, a prole de dona Das Dores encontrava-se todo pronta, aquietados nos bancos de gameleira, a espera da genitora que acabava de se salpicar com um delicioso pó de arroz.

- Pronta, já estou pronta, Onofre, vamos embora porque já está na hora.

A recepção é agitada, todos chegam à mesma hora, Maria Ordalia radiante no meio de todos os brinquedos, fazia questão de abri-los e agradecer incontinente. Muito obrigada pra cá, muito obrigada pra lá. As pessoas adultas vão se ajeitando nas cadeiras, as crianças procuram o espaço que lhes foram reservados a seus folguedos. Tudo corria normal a festa alegre, aumentou de intensidade depois de se cantar os Parabéns para você e é lógico de barriguinhas estarem cheias.

Das Dores, que estava grávida do quarto filho, depois de colocar as fofocas em dia com os adultos, foi dar uma espiada de como estavam as garotas, as irmãs falam juntas brincavam de roda, a Gema, com as maiorzinha de amarelinha. Como era dia chuvoso, tudo dentro de casa ou na área de serviço coberta e cercada com uma pequena mureta, que servia de bancos. Como nesse ambiente também tinha adultos, ela resolveu ficar por ali, paparicando as filhas. Alguém gentil trouxe-lhe uma cadeira, no momento que a petizada resolveram a mudar de brincadeira, escolheram aquela que se coloca seis cadeiras no meio e todos ficam correndo até ser pronunciada uma senha, ai todos correm para se assentarem os que não conseguem assentar são eliminados. Todos procuram cadeiras e Gema que não havia percebido que a mais próxima havia sido colocada para sua mãe se assentar, correu até lá retirou a cadeira no momento exato que sua progenitora ia sentando; o tombo fora inevitável . Foi um corre-corre tremendo. Dona Das Dores que é chegada a um escândalo e ainda mais estando grávida grita:

- Ai meu Deus, socorro, vou perder a criança, chamem o Dr. Dione.

As pessoas a levantam, alguém providencia rápido um copo de água com açúcar, ela toma um golinho, mas continua histérica.

-Quem foi, quem foi que fez isso? Quem foi?...

Ao olhar par traz vê a sua filha Gema pálida, quase desmaiando, parece até que não tinha nada de sangue na veia, segurando a cadeira, trêmula, braços tremendo, pernas bambas antevendo o inferno que seria a sua vida dali para frente, em seus seis anos de idade.

-Ah foi você, sua malvada, maldita, desgraçada. Se o neném nascer aleijado, eu lhe mato, se nascer morto, eu lhe mato, se morrer antes nascer, eu lhe mato. Vou de bater até lhe matar, venha cá sua malvada.

Sabendo do ocorrido, Sr, Onofre, que estava na sala com os demais cavalheiros, chega correndo, inflamado pelos gritos de sua mulher, dá ali mesmo um tapas na sua filha, acabando ali com aquela festinha. Bateu bem batido que até as crianças dos outros ficaram chorando e com medo. Serenados os ânimos, os convidados despedindo e se retirando debaixo de um toró danado. Dona Das Dores socorrida, fora ajeitada na cama de uma garota, que ficou com os olhos arregalados olhando aquela senhora barriguda, escandalosa, gemendo sem parar e maldizendo a filha que lhe puxara a cadeira.

- Você via ver só pestinha, se eu perder o neném?...

Como já era de praxe, gritava mais alto ainda:

- Chamem o Dr. Dione.

Goiânia, 15 outubro de 2008.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 16/10/2008
Reeditado em 15/03/2011
Código do texto: T1231157
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