VÍRGULA 15 : A SEXTA REBENTA (cor)

A SEXTA REBENTA

Bem antes de nascer a sexta criatura na casa dos de Lima, a prole rejeitava aquela barrigada, principalmente a Gema, que pressentia que dali só veria problemas. O nascimento como não deveria deixar de ser, foi um verdadeiro show de histerismo, com direito a tudo que estava acostumada a fazer. A dona Das Dores caprichava nos urros, nos ai-ai-ais. A parteira grita:

- É "muié"...

Só que desta vez, numa aposta com o Tião Nunes, Onofre de Lima que queria outro homem, ficou desolado, perdia aposta, soltar 2 (duas) dúzias de foguetes, ouvindo o Hino Nacional, executado pelo serviço de alto falante. Pagou de imediato a aposta, mas teve que suportar o mau humor da mulher, que já era mau e a cada estampido dos rojões, os gritos e urros aumentavam de volume.

A vizinhança alvoroçada, sem ter o que fazer, sentavam nas portas das casas aguardando os acontecimentos que por certo viriam , mas que nada, tudo corria normal, pois aquele espetáculo já era a quinta vez que acontecia. Somente o primeiro parto, o da Gema fora realizado na Capital. O restante ali na roça mesmo, todos os outros cinco, foram assistidos pela dona Angelina parteira experiente responsável pelo parto de meio mundão de gente por essas paragens.

Mal acabara de soltar os fogos, com o bebê "banhado" começava a chegar uma romaria de gente, era visita de todo o lado. Levas de comadres, alguns compadres, curiosos é o que não faltava.

Cada um postando em algum quanto da casa, aguardando o cafezinho com biscoito de queijo, que era o agrado para ocasiões assim tão especiais. Todas pessoas importantes ali estavam, participando de mais este evento social, tão esperado por parentes, amigos e todos os demais daquela pequena cidade.

-Onofre, como é, vai contar ou não como é que se faz, perguntou-lhe o compadre Jory.

- Há, você sabe compadre.

- Sei, mas eu quero saber como é que fez com a Rosarinha.

- Sei lá homem, "cruiz" você só pensa nisso. Agora uma coisa eu lhe digo com certeza, essa ai que está nascendo, que fez foi eu viu cabra da peste.

A comadre Elza oferece abrindo a alvorada pelo serviço de alto-falante, a valsa Danúbio Azul, seguida por mais de dezena e meia de músicas, oferecida por alunos, amigas, irmã. Todos queriam demonstrar o carinho que tinham por aquela dedicada professora, todos sabiam que ela era leiga, mas era uma das melhores da escola.

Já havia alfabetizado filhos de famílias ilustres, se pode dizer alguma coisa desta professora é que a cidade lhe deve muito mais do que se pensa. Só não fazem nada porque gratidão não dá votos, se ela fosse política, com certeza já haveria lá uma rua, uma praça, quiçá uma travessa como uma justa homenagem, com o nome dela:

RUA PROFESSORA DAS DORES.

Goiânia, 13 de outubro de 2008.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 15/10/2008
Código do texto: T1229154
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.