Acaso
Era uma época, uma vez, uma vida, um dia, em que, na falta de tempo melhor, o amigo da moça sonhadora da escola resolveu dar uma volta no parque da cidade, a noite, pra ver se encontrava algo interessante pra se viver naquele instante.
Nenhum amigo virtual, nenhum amigo real, ninguém da família, nada que soasse bom, real e verdadeiro suficiente quanto os amigos imaginários que vinham de sua mente, de sua alma. O universo parecia conspirar.
Foi aí que decidiu caminhar no parque. Um caminhante noturno, despreocupado com o próprio rumo, despercebido aos olhos dos demais caminhantes, como se uma força maior os impedisse de perceber sua presença. E ele, cheio de si, aproveitava as carícias da brisa macia que perpassava o parque, o beijo da Lua, que se fazia presente, a luz dos olhos iluminadores das estrelas, o tempero musicado das folhas das árvores que o acompanhavam onde quer que fosse.
Deitou-se na grama para apreciar melhor a beleza negra da noite de primavera, sentindo em seu coração o delicioso perfume das flores mundanas que o cercavam. Acreditou em si mais do que nunca, e usou de sua visão periférica para ver o que jamais havia visto.
Naquele aglomerado de sentimentos e sensações, esperas e esperanças, luz e lucidez, cor e calor, viu que ele não era mais. Que se desintegrava, que flutuava na superfície, indo ao encontro daquela criatura perfeita, cintilante, apassivadora de todos os temores, uma combinação de céu, mar, Lua, estrelas, brisa, vida. Era ela. Só podia.
A moça sonhadora que todos julgavam viver no mundo da Lua realmente viva lá. Mas não como mortais desprovidos de caráter e coragem, como eles. Como amiga, como irmã, como musa, como música, como fada. Ela era por si só rima, verso e poesia. E ela levou o menino amigo para junto de si, para longe das dificuldades corriqueiras, para perto da vida real, natural, surreal.
Para a vida de sonhos.