Alma Negra, o pirata

Capítulo Primeiro:

Era uma tarde nublada e fria, eu, depois de desavenças com o capitão, esfregava o chão, enquanto todos se preparavam para o grande acontecimento da noite. Foram meses de navegação, mas tamanha a vontade de chegar, parecia que havia passado anos. Mas finalmente estávamos ali. Ao longe começávamos a avistar terra, o cheiro de rum já exalava da cabine do capitão.

O barulho das correntes da âncora soava como um despertador para aquele grande acontecimento que se aproximava das nossas vidas. Eu, como grande amigo do capitão, apesar das constantes desavenças, o acompanhava no primeiro dos botes. Construções rudimentares, neblina e muito frio davam um ar ainda mais sombrio àquela noite.

Alguns minutos de remo e já podíamos ver aquele cenário, construções antigas, completamente abandonadas em um tom amarronzado de madeira envelhecida e desgastada. Avistamos então naquele porto abandonado o grande motivo de nossa estada ali. Parado, na ponta do desembarcador lá estava, imóvel, após incontáveis dias de exílio, sempre ali, esperando pela chegada do socorro, um dos maiores piratas da história, agora sem tripulação, derrotado e exilado, e com um ar de quem já esperava pelo que estava a acontecer.

Eu nunca havia visto o capitão tão tenso, nem mesmo ele em tantos anos de navegação tinha estado tão perto do lendário pirata simplesmente chamado de “O Marujo”. O silêncio era amedrontador quando de repente:

- O que fazem aqui marujos?

- Viemos resgatá-lo.

- A mando de quem?

- De ninguém, viemos propor-lhe uma troca de favores.

- Hum, estou ouvindo.

- Viemos resgatá-lo em troca da sua ajuda numa batalha.

- E quem ou o que fez vocês pensarem que eu os ajudaria?

Foi então que eu intervi:

- Eu imagino que não seja agradável ficar por aqui, mas se você gostou tanto...

Eu mal acabei de pronunciar esta frase e já estava ele dentro do nosso bote. Olhei para o capitão em seus últimos lamentos com um profundo corte na garganta, caindo ao mar. O marujo, ainda limpando seu punhal ensangüentado olhou pra mim com um olhar de dar calafrios:

- O que você está esperando pra começar a remar?

Eu nem respondi, remei de volta ao galeão apenas ouvindo sem coragem para pronunciar uma palavra sequer:

- Como é que vocês se deixam comandar por um covarde destes? Eu tinha até me esquecido de como eu fico bem com este chapéu. – referindo-se ao chapel ainda úmido que o capitão usava em seus últimos momentos.

Quando chegamos ao navio, um silêncio tomou conta de tudo, eu o acompanhei, aos olhos curiosos de toda a tripulação até a cabine que agora o pertencia. Tive o prazer de acompanhá-lo na primeira garrafa de rum, antes de ele me expulsar da cabine com ordens num tom seco e severo, um tom que o nosso capitão nunca haveria de alcançar. Passei as ordens aos outros, contando inúmeras vezes, nos menores detalhes, o ocorrido na ilha.

Navegávamos agora, não mais a oeste, ao encontro da nossa guerra, mas a leste, voltando ao reino humano é claro que, sem questionar. Quando eu entrei na cabine no outro dia pela manhã, fui logo surpreendido:

- Temos uma guerra em Cidade del Mar, no reino humano contra forças realmente preocupantes, vocês não mudam mesmo né! Sempre se preocupando com coisas inúteis e esquecendo-se do que realmente interessa. E outra coisa, faremos com que esse tal de Lobo do Mar esteja lá também, então poderemos resolver os assuntos com ele depois.

Mais uma vez entrei quieto e saí calado, pois o “Marujo” não parava um minuto sequer de falar. Seguiu-se muitas ordens e enquanto eu saia da sua sala:

- Ei!

- Sim capitão.

- Qual é o seu nome?

- Alma Negra.

- Hum...não me esquecerei, nome forte este hein!

- Ei, Alma Negra, faça-me um favor. Cuide para que o navio do Lobo do Mar fique sabendo que estamos indo salvar o mundo em Cidade Del Mar!!!

- Sim capitão!

Retirei-me da sala dele indo ao meu pombo de estimação e colocando em seu pé a seguinte carta:

"Caros Companheiros;

Fomos designados para uma missão de suma importância e, portanto estamos adiando aquele encontro com aqueles piratas inferiores do Lobo do Mar. Como somos os melhores piratas de toda Kalahad, estamos indo para Cidade Del Mar salvar o mundo, depois disso sim, seremos reconhecidos pelo mundo inteiro como os melhores piratas de todos os tempos. Deixamos para Recuperar o meu navio depois.

Alma Negra."

Meu pombo conhecia como ninguém o navio que ele vivera quase toda sua vida e podia encontrá-lo em qualquer lugar do mundo. Pelo que eu conhecia do Lobo do Mar, e conhecia muito bem após todos estes anos navegando juntos, assim que lesse o bilhete pensando que havia recebido por engano, ele tentaria nos surpreender em Cidade Del Mar. A armadilha estava armada!

Cadu Crestani
Enviado por Cadu Crestani em 12/10/2008
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