VACA NO BANHADO
VACA NO BANHADO
As vezes me lembro de coisas engraçadas ou tristes que acontecem quando parentes se encontram para festas ou mesmo velórios, porque toda família tem seus segredos, suas picuinhas, alegrias e tristezas e meus parentes são muito festeiros e divertidos, quando se reúne a família bebe suas cervejas, come muito bem, canta, dança, ri , chora e briga se for preciso; essas reuniões de família se repetiam sempre e todos adoravam, principalmente os casamentos.
Durante o ano todo dona Cida se preparou para o casamento de sua filha Betinha, seria a ultima a se casar na família e ela queria preparar tudo com o maior capricho, mas as dificuldades começaram quando a jovem noiva disse que não queria saber de festa em seu casamento; foi um susto porque casamento sem comemoração naquela casa era impensável, a confusão estava armada e as discussões eram diárias e cada vez mais violentas porque a noiva estava irredutível.
A zangada mãe de família contava com o apoio do marido, filhos e netos, ninguém queria perder a festa e a briga seguiu por meses, mas o assunto terminava sempre da mesma maneira: sem acordo, porque aquela turma era de uma teimosia sem precedentes; afinal vencida pelo cansaço Betinha disse: tudo bem eu concordo com uma recepção simples, nada de chopes e montanhas de salgadinhos, não quero ninguém bêbado no meu casamento, nada de bagunça.
Foi um alivio, mas se não podia ter as coisas do costume como ia ser, servir o que? Voltaram a discutir e a confusão tomou conta da casa e o acordo não chegava nunca, quando faltavam dois meses para a solenidade, Lila a sensata irmã da noiva sugeriu que se servisse bombons e champanhe e a sugestão foi aprovada por todos; dona Cida tratou de preparar os bombons e exagerou ao maximo como era seu costume, preparando cinco mil bombons para duzentos convidados.
O champanhe de boa marca foi comprado branco e rosê e daria para encher uma piscina, para completar a mãe da noiva preparou um enorme bolo decorado com noivinhos e se deu por satisfeita; o casamento seria na capital onde a moça morava e os parentes e amigos em sua maioria vieram do interior, a animação era grande, mas chegou ao auge com a vinda da madrinha de batismo de Betinha, porque a divertida dona Nina era capaz de alegrar e animar até um velório.
Depois da bela cerimônia com a igreja cheia de flores, os convidados passaram para o salão de festas e o champanhe, bombons e bolo foram servidos, mas com tanto açúcar e álcool misturados o resultado foi uma bebedeira coletiva, os elegantes convivas abandonaram as taças e passaram a beber no gargalo das garrafas e a alegria rolou solta; depois de horas a festa chegou ao fim e todos foram para suas casas e os do interior foram para casa de dona Cida.
Dormiram cada um em um canto, alguns vestidos do jeito que vieram da festa; os recém casados viajaram com Betinha bastante injuriada porque mesmo sem a mal falada cerveja a bebedeira foi geral; no dia seguinte os amassados convidados se levantaram tarde e todos com uma gigantesca ressaca, mas a prevenida dona da casa já estava com um café fortíssimo pronto e bem quente para salvar a situação, depois do café ficaram por ali sem assunto e de cara triste.
Por ultimo se levantou a madrinha Nina procurando água e depois de matar a sede, ela disse: gente acho que bebi champanhe demais, porque sonhei que eu era uma enorme vaca malhada e que bebia água em um banhado, era tão real que eu acordei com a boca seca achando que era uma vaca de verdade, todos começaram a rir e se esqueceram da ressaca, como a sobra de champanhe e bombons foi grande, recomeçaram a festa e pegaram outra carraspana; com uma noiva que não queria nem festa e nem bebedeiras, foi o evento do ano.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA