CASAMENTO MUITO DIVERTIDO
CASAMENTO MUITO DIVERTIDO
A realização de casamentos na cidadezinha de Brejolandia era sempre uma ocasião especial, pois naquele oco do mundo nada de diferente acontecia, mesmo os velórios eram raros porque aquele povo de vida simples tinha excelente saúde, só morria por extrema velhice e como as novidades das cidades grandes não chegavam até lá, os divertimentos eram poucos e raros, mas os casamentos com suas comemorações sempre muito animadas eram a salvação.
Quando um casamento era marcado a comunidade se animava e esperava ansiosa pelo evento; dona Liçona era a única costureira daquele lugar e ficava assoberbada com a quantidade de encomendas que recebia, porque todas as senhoras e senhoritas queriam um vestido adequado para a ocasião; os homens não se preocupavam com roupas porque compravam um terno quando se casavam e o usavam em todas as festas e não desistiam dele nem na morte, pois era sua mortalha.
Casamentos, enlaces ou bodas era tudo igual, mas vez por outra acontecia alguma coisa diferente e se tornava o assunto de anos e anos a fio, como o tumultuado casamento de Eleutério e Rutinha porque a família da moça não gostava nem um pouco do candidato a marido e faziam o possível e o impossível para acabar com aquele namoro, mas como o proibido é sempre melhor a jovem não desistia e cada vez mais se apaixonava por Eleutério e as coisas só pioravam.
O rapaz queria se casar de qualquer jeito, por duas vezes pediu a mão de Rutinha e foi sumariamente recusado; parecia que essa historia não teria um final feliz, mas o rapaz teve uma idéia que para os padrões da época era um desproposito e bastante perigosa, mas no desespero a moça aceitou a proposta e deu-se o desastre, ela apareceu grávida e foi um Deus nos acuda, mas a família engoliu a afronta e autorizou o detestado casamento, avisando que não participariam.
A data foi marcada e os convites foram feitos, todos esperavam que a família de Rutinha voltasse atrás em sua drástica decisão de ignorar os noivos e o casamento, mas no dia marcada descobriu-se o contrario do esperado; o noivo e os convidados esperavam a entrada da noiva e foi um choque quando ela entrou só e ninguém da família compareceu, mas a cerimônia foi realizada e os presentes acompanharam os noivos até a casa de Rutinha.
Ao chegarem encontraram a casa fechada, as luzes apagadas e um silencio tumular, muito desapontados não sabiam o que fazer, mas o noivo disse: porta foi feita para ser arrombada e com um chute arrebentou a fechadura e todos entraram, como nada havia para se comer ou beber, alguns convidados saíram e compraram algumas caixas de cerveja e uma tabuleiro de pasteis engordurados, ligaram um radio e armaram uma festa, comeram, beberam e dançaram.
Quando a cerveja e os pasteis acabaram, a alegre comitiva se dirigiu para o bar do Gudão era tarde e o bar estava fechado, mas o gordo e bem humorado proprietário reabriu o estabelecimento e a festa recomeçou e continuou até o dia amanhecer; foi o casamento de pior fama e também o mais divertido daquele lugar, no dia seguinte a omissa família da noiva era motivo de criticas e comentários maldosos, mas não estavam errados a respeito do Eleutério, pois o atrapalhado casamento só durou um ano e ele sumiu da região.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA