O VELHO E A FEIRA
Com suas costas curvadas, carregando sobre as mesmas, sonhos e esperanças de um ser que é o que não sabe; ao caminhar desolado pela feira da cidade, ele encontrava em cada rosto, um pedaço do rosto que ele não tinha, aliás, como se pode ter um rosto sem arrancar-lhe a própria vergonha?Ele não sabia responder.
De repente, ele percebe que começa a chover. E a chuva fazia com que ele lembrasse das lágrimas de seu filho, que, ao saber que seu pai tinha pouco tempo de vida pôs-se a chorar. Sei meses de vida! Foi o que o médico lhe disse. E mesmo sabendo disso, ele não se abalou.
E Quando lhe perguntaram como estava, ele simplesmente respondeu:
- Chateado
- Chateado? (perguntou seu filho)
Ele acabou por não dizer nada, não queria que o filho sentisse a mesma angústia que ele. A angústia de não saber que é. A angústia, de refletir 70 anos em sua vida, sem obter nenhuma certeza sobre a sua medíocre existência.
E ao ver os pingos da chuva (antes tão fortes, mas que aos poucos definhavam) morrerem ao tocar o chão,ele pensava se, um dia iria morrer assim, sem ter consciência que morreu.
Tinha medo de morrer de relance, assim como os amores platônicos; tinha medo de morrer como os poetas, engasgado com seus próprios sentimentos; tinha medo de morrer no fim da tarde, assim como a feira da sua cidade.
No fundo, o que ele queria, era ser. Ser um ser-ouvido, ser um ser-boca,Ser um ser, que tivesse uma função definida na vida. O que ele queria, era ter um propósito, assim como a feira.