VÍRGULA 12 : ALFINETANDO O PIU-PIU 1 (cor)

(CORRIGIDO)

ALFINETADA NO PIU-PIU 1

VIRGULA 12

Logo após a inauguração da usina construída pelo tio Orion Elvidio, marido da tia Ana da Silva, a cidade experimentou um surto de progresso espetacular, as lâmpadas que iluminavam a rua ligadas ao velho ineficiente motor estacionário, cujo ronco perturbava o sono de quem morava próximo, brilhavam agora com mais luminosidade, nem na capital a iluminação era tão boa. Podia-se identificar as pessoas a metros de distancia. As geladeiras elétricas aposentavam as velhas de querosene, já não se conseguia mais contar as famílias que as tinham, pois já aram tantas, as lamparinas nem pensar iam para o lixo.

O bar do tio Orion ganhou um a linda sorveteira e onde saiam picolés e sorvetes de sabores inigualáveis. O progresso chegava rápido. As rádiolas com suas portas envernizadas substituíam os velhos rádios, até uma casa para venda de discos fora instalada. O serviço de som melhorado. Os circos, touradas e parques que vinham constantemente à cidade, com aquela iluminação forte, ficavam agora funcionando até mais tarde. O cinema foi reformado, ganhando máquina que passava o filme sem parar. Inacreditável. Velhos e jovens ficavam pasmos de tanto progresso.

-Atenção, atenção, do Rio de Janeiro nos chegam importante notícia, o Presidente JK vai mesmo construir no estado de Goiás, a nova Capital Federal cujo nome será Brasília, anunciou o serviço de som, tocando logo depois o Hino Nacional. A euforia de ver o futuro próximo emocionava a todos.

Tio Orion muda-se para Anápolis a fim de dirigir uma oficina mecânica de caminhões de uma importante marca. Com ele iria a nossa tia Ana e seus filhos Belo e Suely. O progresso é assim, chega e revela valores dante esquecidos. A saudade abre-se lugar ao enxergar o porvir.

Na casa de Onofre de Lima, as primeiras peças eram mexidas a fim de efetivar a mudança de Gema para o Colégio Santo Agostinho. Ela iria morar com sua Avó, dona Senhora, velhinha simpática de lindos olhos azuis claros, justamente com dois tios, o solteirão carrancudo Artur de Lima e a viúva estéril e implicante Alaska da Silva. Como o ensino na capital possui um currículo mais seletivo, Gema submetera-se a dois exames de admissão, um no Santo Agostinho e outro colégio do Professor Múcio, passando em ambos. A notícia já chegara a todos os ouvidos. Voltando a Anicuns a fim de aguardar os inícios das aulas, pois já estava matriculada no Santo Agostinho, ao descer da jardineira, ouviu:

-Agora sim é que vai empinar mais o nariz, essa metida. Fez de conta que não ouviu e pôs-se a andar imperturbável.

Em casa continuou a fazer seus afazeres domésticos. Após dar banho no seu irmão Leo, notou que ele chorava ininterruptamente por mais de meia hora. Deve ser fome pensou. Vou leva-lo lá no grupo onde minha mãe está afim de amamenta-lo, como sempre fizera. O choro do menino continuava por mais que ela o balançava. Não parava de chorar de jeito nenhum. Chegando no grupo procurou sua mãe falando:

- O Leo não para de chorar de jeito nenhum mãe, acho que é fome.

- Vem cá neném, a mamãe vai dar "mamá". Estranhou o bebê não queria pegar o peito de jeito nenhum. Pensou Das Dores tem alguma coisa errada. Olhando para baixo viu a sua fralda suja de sangue. Tirou o alfinete e ele parou de chorar.

- Vem ver Gema o que você fez, furou o pintinho do Leo com o alfinete.

- Desculpa mãe, foi sem querer, foi sem querer.

- Eu sei minha filha, pelo zelo que ela sempre o tratou repetiu, eu sei.

Goiânia, 10 de outubro de 2008.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 11/10/2008
Reeditado em 22/01/2009
Código do texto: T1222285
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